Três desejos

O sol não dava trégua e não havia nenhuma sombra à vista. Sentei-me na calçada, exatamente embaixo da placa do ponto de ônibus. Restava esperar. Não havia mais ninguém por perto, mas um par de chinelos azuis começou a descer a rua. Era uma senhora. Cabelos presos, uma bolsa enfiada no ombro e um envelope entre os dedos enrugados.

“Menino, passou algum ônibus?” – era uma voz um pouco mais jovem do que sua aparência.

“Não, não, mas não faz pouco tempo que estou aqui.” – respondi olhando para cima. Ela se aproximou e continuou.

“O próximo ônibus vai para Brasília, né? É porque decidi deixar de preguiça e escrever uma carta para a presidente. Não só escrevi, mas como não sabia o endereço, resolvi levar eu mesma.”

“Acho que esse ônibus não vai para lá...”

“Eu sempre quis escrever uma carta para o presidente e, talvez, essa nova presidente possa ouvir meus conselhos. Seria uma maravilha!”

Já estava curioso para saber o que a velha queria. Bastou esperar e ela prosseguiu.

“Primeiro, aconselharia uma decisão sobre o cigarro. É veneno, num é? E as pessoas continuam fumando, né? Povo burro! Em segundo lugar, acho que é preciso tomar uma decisão sobre as mulheres que têm filho sem ter condição de criar. Tem que botar na cabeça desse povo que é preciso se prevenir e que filho é algo para sempre. E, por último, queria que acabassem com esse maldito horário de verão!”

Foi impossível não sorrir. O ônibus apareceu no alto do morro. Ela logo perguntou se ele seguia para Brasília, respondi que não, mas que poderia levar a carta para lá. Afinal de contas, talvez houvesse algo de bom naqueles pedidos.