Leitor, como você chamaria esse texto?

A frente dos meus olhos está um écran esverdeado que me cansa a vista. Em mente tenho a pressão da criatividade ausente. Já procurei um estado; já tentei começar do conflito, mas não cheguei a lugar nenhum.

Eu pensava que a minha grande vocação fosse não escrever. E me sentia especial por isso, já que o silêncio não é vocação para todos, pois ficar “calado” na maioria das situações requer ampla sabedoria ou magistral indiferença. Porém, entristece-me agora a constatação de que careço tanto da sabedoria quanto da indiferença, ao tempo que, mesmo sem ter o que falar, falo, ou melhor, escrevo. Se não tenho vocação pela escrita nem pelo não escrever, prefiro pensar que não tenho vocações. Sinto uma estranha liberdade perante esse ponto de vista, afinal, sem vocações nada me chama, assim sendo, sou livre.

Certa vez li que o ato de escrever é uma tarefa que requer aproximadamente um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de expiração. Eu não só concordo como acho que nesse exato momento a inspiração está no marco zero, portanto sou pura eloqüência do vazio.

É estranha essa sensação de estar enganando o leitor. Às vezes eu penso que o leitor gosta disso, pois quando leio alguma crônica, conto ou afim, fico na esperança de ser enganado, tapeado, passado para trás. Vejo que prefiro ser o enganado ao invés de o enganador. Talvez eu esteja convencendo-lhe da minha inaptidão com as letras, talvez não.

Se você, leitor atento, procura neste texto um foco, um estado, um conflito: lamento, não tenho muito a oferecer-te. Por escassez de melhores artifícios, tente espremer essas palavras até que os conceitos se embaralhem e reflitam alguma coisa aproveitável. Peço que seja criativo, pois; quando falta criatividade ao escritor, a última esperança é o leitor benévolo ou o que faz de uma mera vírgula um vasto devaneio.