Dizem que morrer tem hora, mas ninguém sabe quando. Dizem, também, que há quem saiba que vai morrer e, antes que o fato aconteça, deixa registros, indícios e coisa e tal. Nunca se saberá com certeza. Fato concreto é que a morte arrepia a todos. Aquela figura de rosto escondido, esguia, negra, com uma gadanha empunhada, como representada por aqui, encanta a poucos. Mas, a dualidade simbólica que carrega – medo e esperança – fascina a muitos: filósofos, religiosos, cientistas e vários eteceteras.

Longe, contudo, de qualquer filosofar, longe dos mistérios que a vida carrega, a morte, traçada sob o sol nosso de cada dia, tem assumido outras feições, mais duras, mais frias e muito mais ininteligíveis. Têm a cara de filhos, de mães e pais, de amantes... Têm endereço, telefone e armas caseiras. E que não são só ossos, esqueleto, mas também carne. Não ceifam o trigo já maduro, mas qualquer fruto, qualquer folha, qualquer indício de vida que rompe, que floresce. Ah, o mundo de hoje! – afirmam alguns. Os valores, hoje, todos invertidos! – também confirmamos.

Acordei, hoje, com a cara da morte na tela da teve. Depois, deparei de novo com ela estampada, ao vivo e a cores, em todos os jornais que li. Em sequência, Ana Maria Braga fez desfilar outras caras, que a gente nem sabe mais por onde andam. Estremeci. Estremeço todas as vezes que me deparo com essa morte em carne e osso, que age por ciúmes, ganância, vingança e outras “âncias” por aí. Acho que todos estremecemos, porque não é essa a morte que aprendemos. Essa não é a morte que trás possibilidades de outra vida, essa não é a morte que nos colherá chegado o tempo desconhecido, mas inevitável. Essa é a morte que nos faz gemer, nos envergonha, nos instiga a mastigar sentimentos desesperançados, nos atormenta, nos aprisiona.

O quê, vale a vida de cada um de nós? Quanto vale? Quanto? Alguém pode mensurar? Difícil! Tão difícil quanto medir a profundidade do amor naquele beijo esperado, a alegria de rever o amigo que voltou, a emoção da mãe ao conhecer a face do filho que acaba de nascer. A vida vale isso: o pulsar, o doar, o amar, o crer. O viver grandioso que há em cada grão que nos alimenta a alma ou, o coração. Vale e, é isso. Percepções que essa morte inexplicável desconhece. Que essa morte em carne e osso não vislumbra, não saboreia, não aprecia, não compreende.

Dizem que viver é uma arte. Morrer, também. A natureza, inteira, se alimenta da morte, para renascer, renovar, ressurgir. Em seu tempo exato, que é o tempo que merecemos por dádiva, portanto, a ele temos direito.

Essa outra, me recuso entender.

Eliana Schueler
Enviado por Eliana Schueler em 03/03/2011
Reeditado em 05/06/2011
Código do texto: T2826146
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