Passeios no Carro do Meu Pai

Desde pequena, toda vez que íamos passear de carro, eu sempre quis me sentar no assento do meio do banco de trás. Ninguém entendia muito bem aquilo... Minha tia contava que seus três filhos brigavam pelos assentos das pontas, para poder olhar a paisagem pela janela. Eu não. Brigava pelo assento do meio. Era o meu lugar, e ai de quem quisesse tomá-lo de mim! Mas tudo bem, qual o problema, deixem a menina com suas manias!

“Daí você só consegue ver o trânsito, qual a graça?”, me perguntavam. E eu respondia ingenuamente: “Sei lá... Eu gosto”. Eu queria olhar para frente, e não para os lados... E a paisagem estava na minha imaginação, e não do outro lado do vidro. Vai entender...

O curioso é que até hoje conservo esse hábito. É automático, eu entro no carro e sento no meio do banco de trás. Filha única, nos passeios com meus pais, o assento de trás é só meu... Então olho pelo vidro da frente, pelas janelas laterais, para onde quiser! Vejo a paisagem por todos os ângulos... E se não há nada de interessante, penso em outra coisa para me distrair.

Em breve, vou tirar minha carteira de motorista e a experiência vai ser outra. Vou precisar de mais concentração, continuar olhando para frente... Mas, como passageira, não vou trocar de lugar. Porque, no fundo, ainda me sinto como aquela criança teimosa e imaginativa, que gostava de passear no carro do papai, ouvir as músicas do rádio, olhando para frente, criando seu mundo... Viajando no assento do meio do banco de trás.

Nicole Ayres
Enviado por Nicole Ayres em 08/03/2011
Código do texto: T2836496
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