Porões.

Tenho por hábito reler o que escrevo, de tempos em tempos. Deveríamos todos fazê-lo. É muito bom, pois descobrimos facetas a nosso respeito, que desejaríamos enterrar.

Um dos motivos porque tenho aparecido pouco por aqui, é a descoberta de ter me tornado repetitiva. Escrever recorrentemente sobre os mesmos temas. Sentimentos, anseios, decepções.

Quando deixamos de encontrar novos temas para explorar, é porque há algo mal resolvido em nossa vida, relacionado aos assuntos recorrentes.

Quanto mais procuramos afirmar o quanto estamos bem e o quanto administramos admiravelmente nossas frustrações, nossos sentimentos não correspondidos, nossos anseios não realizados, mais deveríamos parar para uma auto análise, uma auto crítica construtiva, que realmente nos liberte dos fantasmas acumulados em nossos porões interiores.

Acredito que a maioria de nós que escrevemos, não o fazemos somente para nós. Uma amiga a quem pedi permissão para repassar uma crônica escrita por ela, respondeu-me que depois que ela escreveu, deixa de ser dela.

Assim sendo, uma vez que expomos nossos sentimentos e idéias, deveríamos analisar o que e sobre o que escrevemos, para poupar o leitor, ou ouvinte, de participar de nossos ressentimentos pelos sonhos não realizados, acumulados em nossa memória.

Afinal, as frustrações são nossas. Sei que elas alimentam os poetas, mas com o passar do tempo, nos deprimem. E eu prefiro encontrar algo realmente construtivo, que me faça festejar a saída da escuridão do porão.

18/03/2010.