A Farinha e a Água

Enfim, Dr. João resolveu aplicar um placebo. Não havia muito mais o que fazer. O paciente levantou-se como que por milagre.

Placebo não é remédio, não possui drogas que curam.

A idéia do placebo é simples: se você acreditar que aquela drágea realmente pode curar, se seu cérebro for convencido de que a tal substância estava presente no comprimido, ele se comportará como que se sob o efeito da droga. A cura acontece pela sugestão, pela crença de que aquilo é um remédio.

Se pensarmos que o objetivo final de remédio é curar, o placebo pode alcançar este efeito. O placebo remedia.

A existência de Deus talvez seja um dilema tão grandioso quanto a pergunta que mais intriga a humanidade: Por que estamos aqui?

A pergunta quanto à existência de Deus, tem resposta óbvia: claro que Deus existe. Falamos dele o tempo todo, matamos em nome dele, vivemos à espera que haja algo mais. A grande questão não é se Deus existe, mas se ele existe de fato ou é apenas uma imaginação humana?

Deus é um remédio ou um placebo?

De repente você observa o céu e se sente incapaz de ser dono disso tudo. O peso de ser a criatura mais avançada nos impele a procurar um ser superior, a buscar uma resposta fácil para a grandiosidade que nos torna formigas. Formigas esnobes, talvez. A existência de Deus nos exime de milhões de culpas. Também nos dá o poder de falar em nome dele.

O peso da certeza de que vamos morrer, nos levou a criar uma possibilidade de eternidade. Não sei como é viver sabendo que tudo acabará um dia. A crença de que viverei novamente me faz viver esta vida melhor. Uma experiência absolutamente pessoal.

O fato é que criamos um Deus realmente semelhante ao homem. Semelhante quando proíbe o homicídio e mata, quando se arrepende, quando se arrepende novamente.

Por ser Todo-Poderoso, incita a dúvida de que poderia ter feito melhor. A nossa culpa é apenas a desobediência. E muitas perguntas nos fazem, às vezes, duvidar de sua existência ou bondade: Se ele é onisciente, no exato momento em que criou tudo, ele já sabia no que ia resultar. E mesmo assim o fez.

Caso Deus exista de fato, há uma possibilidade de continuarmos existindo.

Caso Deus só exista em nossa imaginação, morreremos antes de saber, e não fará mais diferença.

Como a resposta não depende em nada do que agente ache ou deixe de achar, conclui-se que as opções são conceber Deus como um remédio ou como um placebo. Os efeitos serão bem parecidos.

Ed Borges.