Novamente lembranças

Em 21/06/2003, escrevi assim:

O primeiro dia de aula da minha vida.
Naqueles idos de 1953, a gente entrava para o Grupo Escolar com 07 anos de idade. Nós morávamos na Rua dos Ottoni, perto do lindo prédio, que ainda existe, na avenida Alfredo Balena, agora reformado e parece que será utilizado como museu, ou coisa parecida. Era o Grupo Escolar Dom Pedro ll.
Acontece que ele precisou de uma reforma na época em que eu deveria começar a estudar e o nosso atendimento foi transferido para um prédio antigo, na Rua da Bahia, lá no alto, já quase perto da Praça da Liberdade. Eu comecei a sentir um frio na barriga cedo e estava em pânico na hora de ir para lá. Parecia que meu mundo ia desabar. Nem ao menos eu sabia quem iria me levar até lá.
Eis que chega a salvação: minha tia Olga, que sempre nos visitava chegando de repente, apareceu, conversou um pouco e se ofereceu para me levar até lá.
Fomos de mãos dadas, subindo a Avenida Brasil e chegamos lá. Só que ainda era cedo e então ela teve a brilhante idéia, que só pode ter vindo de cima, de passar primeiro na Basílica de Nossa Senhora de Lourdes. Majestosa construção que nos encanta até hoje, e que tem à esquerda, lá na frente, a gruta que sempre se encontra nas igrejas dela. A tia Olga me mandou ajoelhar, rezar, pedir proteção a Nossa Senhora, beber da água e esses gestos me aplacaram o peito, podendo assim entrar naquele horroroso prédio, velho e que me parecia mais uma cadeia até aquele momento, pois ao ver a fisionomia da professora, um campo de concentração mesmo serviria para comparar. Eu, que antes não queria nem pensar, aceitei e fui com minha tia até onde permitiram. Ela se despediu e eu fiquei esperando numa sala imensa, com muitos colegas no mesmo estado que eu.
De merenda, para ficar fácil de carregar, minha mãe cozinhou um ovo, colocou junto com um embrulhinho de sal e era o que tínhamos para o momento.
Na hora que soou o alarme para a merenda, passaram todos aqueles meninos correndo e eu, muito sem jeito, havia deixado a pasta no meio do caminho. O menino mais gordinho e barulhento que havia na sala, passou correndo e pisou na pasta. Eu fiquei sozinha na sala, abri a pasta e lá estava uma roda imensa de cascas e massa, parecendo uma flor. Não dava nem para tentar comer. Chorei baixinho até o fim da aula e também ninguém queria saber o porquê. Tinha que me esconder, pois a professora era muito enérgica e eu vi que ela não ia gostar. Senti um grande alívio quando vi minha irmã a me esperar na saída.
Deixando de lado a parte jocosa da situação, eu nunca vou deixar de agradecer a Nossa Senhora de Lourdes pela presença da tia Olga em minha vida naquele dia, pois se ela não tivesse sido guiada comigo para a igreja, eu hoje não teria esta história para contar, pois não teria entrado para o Grupo Escolar e talvez não entrasse mais.
Pássaro Feliz
Enviado por Pássaro Feliz em 19/03/2011
Reeditado em 21/03/2011
Código do texto: T2858920
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