A TORRADEIRA

Eu tinha um encontro marcado para essa manhã por volta das 10hs. Estava me arrumando, ou desarrumando, para ir ao encontro quando as 9 e 45 o interfone me chamou, logo saquei que não era coisa boa. Interfone ou campainha essa hora quarta feira? Ninguém telefonou dizendo que viria nessa quarta feira.

Até poderia ser pior notícia, mais também poderia ser melhor. Eram membros do conselho fiscal do condomínio. Os conselheiros, todos os três do sexo masculino não estão contentes com as contas da nossa síndica. Por causa desse descontentamento vieram atrapalhar meu encontro.

Eu não sou membro de conselhos, eu não dou conselhos, eu preciso de conselhos. Mas não precisava de conselheiros em meu cantinho agora, justamente agora. Que que vou fazer? Ouvir e balançar a cabeça como vaca de presépio. Mas eu percebi a intenção dos três patetas. Querem derrubar a síndica.

Não posso mais vaquear minha cabeça presépicamente. Nesses meses que sou abrigado por meu novo cantinho, andei me informando a respeito das pessoas com quem convivo. Obtive informações muito minuciosas na melhor fonte de informação de condomínios. Os porteiros.

É batata, os porteiros sabem tudo e mais um pouco. Nem precisa fazer perguntas, basta parar perto e começar o papo falando sobre qualquer partida de futebol. Se por acaso o flamengo tiver jogado e vencido a partida, ah, é o paraíso. Os porteiros contam tudo que sabem tudo que viram tudo que ouviram algum morador falar.

Os três patetas não são gente em que se confie. Não vi nada de errado nas contas da síndica, de quem ouvi apenas elogios dos porteiros antes dela ser síndica. Nada errado mesmo. Eles não aceitaram minha opinião e deixaram uma papelada e uns relatórios, assinados pelo trio, para eu analisar com mais “acuidade”. Palavra de um dos patetas.

Meu encontro das 10 já foi pro vinagre, e não era com a Zenaide. Bem, vou fazer o que dona Lurdes vem me pedindo a semanas, sair e comprar uma torradeira nova. Nossa antiga parou de funcionar. Mais tentarei encontrar quem conserte a véia torradeira. Gosto tanto dela.

É antiga, pesada, daquelas que abre duas portinhas. Torra 4 fatias de pão. Dona Lurdes também gosta da véia torradeira, e não gosta de papos com porteiros de condomínios.


 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 23/03/2011
Reeditado em 06/10/2011
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