Água-com-açúcar

Eu sempre sonhei com uma segunda chance na vida. Queria mais que sonhos, mas desisti de buscar pelo que meu coração pedia. Minha desistência o deixou alerta e o convite veio, enfim.

Alegrei-me com o suspense de imaginar o que nos esperava aquela noite. Aquele convite parecia me cair como uma luva, e de fato eu precisava de companhia. Sem demora aceitei jantar. Me arrumei, vesti meu cabelo com aquela flor vermelha, que sei te encantar; botei o vestido mais novo e o sorriso mais belo.

Fui ao seu encontro, recebi flores, nos embreagamos de vinho importado e música: The cranberries: “Linger”, foi a que anunciou o primeiro beijo. E foi tudo envolventemente planejado, até o suspiro do beijo de boa noite. Acreditei ter sido um começo do eterno.

No dia seguinte quis saber do telefone, não tinha nada novo. Não haviam flores, nem vinho importado, nem letras lindas e melodias envolventes... e também não era nada disso que eu desejava, queria a presença. Mais que relacionamento, eu precisava de um romance água-com-açúcar, será que existem? Por muito tempo acreditei que sim.

Pensei em ligar, mas isso poderia estragar tudo, “- Deixa ele sentir saudades”, tinha certeza que era a atitude correta, não ligar. Continuei sonhando, no intuito incessante de não deixar aquela borboleta morrer dentro do estômago, e ia alimentando-a, com cada palavra e memória do encontro planejado pra ter um final feliz.

Pensei desejar aquele sorriso, e por algum tempo era de verdade o que eu procurava. Os dias foram passando e eu fui percebendo o verdadeiro sentido que aquilo teve em sua vida, ou será que teve, em algum momento, um sentido? Por que tantas rosas, vinhos, músicas e frases de efeito têm que significar alguma coisa, não é? Porque tanto esforço, pra depois não libertar o sorriso para o mundo?

Percebi que o que eu desejava ia além do tato, do toque e da saliva; eu queria abraço, mãos dadas, olhares... eu queria amor.

Será que ainda me liga? Resolvi voltar com a borboleta pro casulo, acho que desabrochou rápido demais e ta me dando uma baita azia agora.

“-Guarde seus anseios, pequena poetisa”. Sabia que mais cedo ou mais tarde o reencontro aconteceria. Deixei estar.

Anja do tempo
Enviado por Anja do tempo em 23/03/2011
Reeditado em 23/03/2011
Código do texto: T2866092
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