Para o menino de roupas brancas

O meu menino veste roupas brancas.

De verdade! Pela primeira vez as roupas brancas perfeitamente alinhadas a um corpo jovem.

O meu menino de roupas brancas e mãos prontas – ou quase prontas - para aliviar dores e horrores.

Quando nasceu aquela criança loirinha, de pele macia e sorriso fácil eu pensei logo que seria um homem de verdade: um excelente aluno, capaz de provocar debates, ter consciência crítica das coisas do mundo, cheio de atitudes, além do caráter, um imenso amor para partilhar. Imaginei sendo o melhor aluno, o mais consciente, mais comprometido, de aprendizagem rápida.

E o meu menino nasceu em dezembro, com a celebração da festa da vida, dois dias depois do Natal. Parece que Jesus foi na frente para abrir as portas da existência para ele e Deus , um dia, poderia olhar aquela carinha linda, sorrir macio e com um olhar de enorme satisfação.

E foi com pouca idade que o meu menino passou a sofrer muito: as reprovações, as mudanças de escola, as dificuldades de atenção, o não-entendimento das coisas fáceis.

Quantas vezes o meu coração sangrou ao vê-lo de mochila nas costas no mês de dezembro para mais recuperações e ameaças de reprovação enquanto outros garotos jogavam bola e, felizes, diziam ter sido aprovados com boas notas.

Os meus olhos sangraram de chorar quando o meu menino saiu do colégio que, para mim, era um sonho! Saiu reprovado e, no ano seguinte, a turma, que seria a dele, foi a campeã das olimpíadas! E ele não estava lá. Eu, naquele dia, me debrucei sobre a minha cama e chorei, solucei até ter dó de mim.

Tantas idas a um consultório de psicologia, de psicopedagogia. Levei ao oculista, ao otorrino, as buscas na homeopatia... Estímulos à leitura, ao teatro a tudo... mas o despertar para o conhecimento...

Exausta de tudo, cheguei a pensar, um dia, em desistir. Pensamento absurdo, crudelíssimo, nefasto. Foi o extremo da derrota, da inglória, da negação. Tudo o que eu só queria que ele fosse bom aluno. Só.

Mas eu não sabia que esse menino foi a grande bênção que Deus me deu...

Eu nunca vi um exemplo maior de superação!

O meu menino sofreu demais, chorou absurdamente, mas jamais falou em abandonar. Chegou, como eu, a se desesperar algumas vezes. Mas lutou como um homem deve lutar... mesmo sendo ainda tão menino! Sem barba ainda e o meu Vinícius já era homem de verdade! Agarrou-se a Deus como eu jamais vira, aceitou as consultas com psiquiatra sem nenhuma vergonha. Aceitou os medicamentos! Não correu dos maiores desafios.

Hoje, quase graduado em fisioterapia e com especialização em acupuntura, está trabalhando numa clínica e é respeitado, inclusive pela equipe de professores da universidade.

O meu menino veste roupas brancas. Tem nas mãos a energia da eliminação das dores físicas e emocionais. Tem no coração uma bondade iluminada e duradoura. O meu menino, que veste roupas brancas, guarda na memória, ainda fresca, o gosto amargo das negativas diante do esforço, mas guarda num lugar muito especial do coração a alegria de viver, de superar os maiores obstáculos, de marcar presença, de ser cidadão de um mundo que precisa urgentemente de pessoas capazes e comprometidas com a felicidade e abertura de novos horizontes.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 23/03/2011
Reeditado em 22/08/2011
Código do texto: T2866359