Onde andam vocês?

Aonde vocês estão, meus amigos? Aonde estão vocês que me ajudaram a enxergar o mundo com mais realismo e serenidade em tempos tão obscuros?

Eram tempos em que eu me sentia carregando tanto peso que eu parecia carregar tijolos recheados de cimento e ainda: de pernas amarradas aos problemas de família... e eu queria tanto voar...

E eu resolvi procurar um colégio de mensalidade menor para me dar ao direito de frequentar um pré-vestibular ao mesmo tempo. O som do tempo me obrigava a estar a serviço. A tarefa urgente, urgentíssima era entrar na USP e arrumar um emprego.

E encontrei um colégio no bairro do Paraíso, olhando para a estação do metrô. Eu jamais vira tanta simplicidade misturada com riqueza! Apenas um salão para os eventos, uma salinha com uma pequena janela onde um senhor nos atendia para os serviços da minúscula cantina. Havia uma única sala de aula para cada turma. Professores prontos a nos mostrar o caminho! Um caminho realista, árduo, pedregoso mas que poderia nos aproximar da felicidade! A Júlia, por exemplo, foi uma exímia professora de Biologia, recém-formada e mais tarde virou redatora de uma revista de rock.

O Colégio Metropolitano foi um exemplo de humanidade e respeito estampada nos rostos. E foi para sempre. Eu me encantei com as pessoas: eram inteiras! O seu Mário era auxiliar de direção e ficava sentadinho a uma mesa no corredor, sempre tranquilo e sorridente e lia a Folha de São Paulo todos os dias. Nunca vi o seu Mário bravo ou ralhando com alguém. Antes, gentil e presente.

Onde estão os meus amigos que me ajudaram a respirar? Quanto oxigênio bom vinha dali!

O Colégio era uma suave e musical mistura de todas as cores e sonhos. Existia uma colega de São João Del Rei, a terra do meu avô. Outra de João Pessoa, uma exímia atleta que, de forma magistral, trabalhava laços para uma apresentação ritimada. Outra moça era recém-chegada da Síria e se deleitava comendo coxinha na hora do intervalo das aulas – uma das inúmeras novidades nessa nova terra. Outro, o Walter, risonho e de bigodinho simpático, era da Bahia e trabalhava no metrô. O Janjão, baixinho e sempre pronto na grandeza da sua amizade. Onde estará a Malu, a Janete, com o seu pequeno filho tão esperado e que todos ficamos felizes ao recebê-lo? O Ricardo – sei que virou um notável cientista. Parabéns, Ricado, na sua educação e esforço você merecia isso, sim. Onde estará a Adriana, que foi ao meu casamento e ainda enviou presente, via SEDEX, quando do nascimento do meu filho?

Eu nunca presenciei cenas maldosas ou traidoras ali. Antes, estímulos ao saber e ao continuar a viver de forma integral.

Voltei algumas vezes ao meu colégio anos mais tarde. Sempre nas minhas férias, em janeiro e o colégio estava invariavelmnente solitário, mas ainda exalando solidariedade em todas as paredes e portas.

Que todas essas pessoas, na sua grandeza, na sua gentileza e gratuidade estejam felizes! Que a doçura da primavera possa sempre exalar para todos vocês os aromas mais perfumados e profundos, abraçando todas as almas e curando todas as eventuais feridas! Que caminhem sabendo lidar com as adversidades e compreendendo que as asperezas da existência se fazem sempre presentes, mas que a vida continua sendo a incansável arte do encontro, dos sonhos, das ilusões, da partilha dos grandes momentos e de muita, muita poesia e eternidade!

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 25/03/2011
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