PLUMAS AO VENTO
Makinley Menino - 2009
Cruzar a praça tão movimentada era minha labuta, ladrões, loucos, mulheres da vida e profetas. Sentia-me atraído por aqueles discursos afiados que soavam aos ouvidos, como o som da brisa ao vento no 17º andar daquele edifício de esquina, meu emprego. E lá no alto era o vigilante daquelas ruas e avenidas, conhecedor das estrelas cintilantes no céu finito. Eu conhecia até a pinta do Severino funcionário daquela organização na fila do cinema, a Borborema chegando atrasada com seu chinelinho dourado porque suas unhas encravadas não permitiam um calçado fechado. Depois que saí deste emprego, continuei anos contorcendo-me na cama aflito para bater o ponto na hora certa. Ao abrir os olhos, outro sonho.
Enjoado de tanto salivar pelas janelas, resolvi fazer aviãozinhos de papel, vê-los deslizarem no vento e sumirem entre as multidões. Melhor eram os dias de greve limpávamos as lixeiras, e os confetes dos furadores naquela gente, pareciam dias de folia, carnaval e serpentina, na chegada das tropas o pau comia solto. Eu gostava daquele arraial, que representava o fogo, a revolta e a gloria dos generais em visita a cidade com seus carros pretos fazendo paradinhas entre o povão nas portas de algum café expresso da avenida principal.
Minha mente estava no trabalho, meu coração nas sirenes das ambulâncias, nos acontecimentos daqueles cruzamentos, nas manobras de guinchos e obeliscos, nos estrondos de elevadores desgovernados, no fliperama da esquina. Tornou-se minha maior paixão o jogo de duplas de tótó. Almoçava, lanchava e matava aulas naquele ambiente deteriorado, tornei-me um dos melhores jogadores, o notável baixinho, o que me causou enormes transtornos na escola pela ausência às aulas e pelas manobras arriscadas em fuga da fiscalização do juizado.
Sem querer conheci as ruas e seus elementos químicos, meninos, meninas e homens com suas misturas de esgoto que corroem a mente, o corpo e os valores relevantes. Descobri que as qualidades da significância das ruas são incompatíveis com os princípios dos valores da família. Aprendi a usar os sentidos naturais e sobreviver nessa centrosfera de leões, coelhos e ovelhas.
Encontrei a infusão da luz no crepúsculo vespertino, alcancei o fascínio das aves que viajam oceanos em busca das suas origens, à sintonia das baleias que dançam sobre a luminosidade da lua, superabundei-me da coragem de esculpir a honra dos paladinos, homens ousados, arrebatados pela graça daquele que é maior que o sol e todas as estrelas do universo.