Saí do trabalho às 18 horas e fui para a academia de ginás-tica. Malhei uma hora e, quando fui tomar banho, constatei que havia esquecido a toalha. Tudo bem, disse para mim mesma, em poucos minutos estarei em casa. Esperei o ônibus por mais de 10 minutos – sempre prefiro voltar de ônibus para apreciar a beleza do Aterro do Flamengo - e, quando ele chegou, estava tão cheio que não deu para entrar. Resolvi, então, ir de Metrô onde, embora em pé, vou mais confortável porque tem ar refrigerado. No entanto, parece que todo mundo resolveu vir à cidade hoje. O trem chegou tão cheio que não cabia mais ninguém. Esperei o próximo, um pouco menos cheio, e vim confortavelmente imprensada entre a barriga de um homem e a bunda de uma gordona. Nessa hora imaginei como deve se sentir o recheio de um sanduíche. Depois de uns vinte minutos cheguei ao edifício onde moro, cumprimentei o porteiro que sempre me fala sobre o tempo, e subi. Peguei a chave, enfiei-a na fechadura e...surpresa! a chave não rodava de jeito nenhum. Tentei tantas vezes que fiquei com uma bolha no dedo. Não teve jeito. Lembrei-me, então, de rezar. Pedi a todos os santos, mas acho que não existe nenhum santo que seja chaveiro ou, talvez, estivessem em greve, reivindicando maiores salários, tíquete alimentação, férias de 50 dias, etc. Como estava fazendo um calor de 40 graus eu comecei a suar e, depois de desistir de abrir a bendita porta, parti em busca de um chaveiro. Andei três quadras e encontrei o quiosque do chaveiro. Ele pegou o celular e falou: Beto, tem uma madame aqui que não consegue entrar em casa. O Beto falava alto ao telefone e eu o ouvi dizer: manda ela lá pra casa ! O cara riu e prosseguiu...o tambor não está rodando e ela precisa de alguém rápido para resolver o problema. Em quanto tempo você pode chegar lá? É aqui perto. Deu o endereço e me disse: fique tranquila, madame, o Beto vai chegar até antes da senhora. Deixa comigo. Estou de bicicleta e em 15 minutos chego lá, respondeu o Beto. Voltei para casa e, realmente, o rapaz já estava chegando. Ele desmontou a fechadura e disse que voltaria em uma hora com ela consertada. Demorou uma hora e meia e chegou pedindo desculpas pela demora, mas é que ele havia atendido a mais duas clientes nesse meio tempo. Quando lhe perguntei o preço ele me disse que eram R$60,00.
- Meu filho, tudo isso? Não dá pra fazer por menos? Afinal eu preciso trabalhar várias horas para ganhar essa quantia e ainda tenho que ter curso superior, falar três idiomas, andar maquiada e de sapato alto.
- Sinto muito, madame mas. com todo respeito, quem mandou estudar tanto? É por isso que eu sou chaveiro. Nessa hora e meia eu atendi à senhora e a mais duas clientes, logo, foram R$ 180,00. Tem emprego melhor? Se fosse tarde da noite ainda ia ser mais caro. A senhora tá com sorte!
Em realidade ele tem razão. Eu não sei abrir fechaduras e tenho que pagar o que ele pediu. O que não posso é ficar do lado de fora. Estou pensando, seriamente, em mudar de profissão.
edina bravo
Enviado por edina bravo em 29/03/2011
Reeditado em 06/02/2014
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