A escritora que eu sou

 Tentando seguir os passos bem sucedidos de nossa amiga Nena Medeiros, resolvi participar do Sétimo Desafio da Câmara e fiz minha primeira bobagem. Inscrevi-me para poesia, que é um gênero que não domino bem, em detrimento de Crônica ou Conto em que sou melhorzinha. Essa semana recebi as críticas para o primeiro poema que enviei e embora elas não fossem boas gostei de recebê-las. Acho que posso aprender alguma coisa e aprender é sempre bom embora qualquer tipo de crítica não deva ser capaz de nos impedir de fazer o que queremos, podemos ou conseguimos.
As provocações são dificílimas, principalmente as duas que aceitei e reagi. Se é que assim que se diz, não sei bem pois ainda não estou enturmada. Na primeira deveríamos falar sobre a relação entre cidades e seus nomes, a segunda sobre tradição e modernidade, tema também relacionado com cidades.
Foram cinco jurados e dois me deram a nota mínima, que é seis: Um dizendo simplesmente: É prosa, enquanto o outro expande mais: Má poesia, de forma epistolar, mas não poética. Já o jurado que me deu a nota mais alta – 9,1 – diz que desenvolvi bem o tema em um poema que exibe sentimento e um todo harmônico. Aplaudiu a forma de pontuar (a despeito do excesso daquela vírgula antes de “o azul”). Diz ainda que tenho veia poética. O jurado, que também é o coordenador, adorou o começo de meu poema, mas diz que a partir de certo ponto perdi a mão. A segunda nota mais alta foi 8,7 e a jurada explica bem o seu voto – achou o texto bonito, diz que não falta ritmo nem conteúdo, mas que fica melhor como prosa do que como poema. Explica porque não considera um poema (Um brincar com a sonoridade das palavras, a existência de ecos, aliterações, tendo ou não rimas. Pede um delírio nos significados e critica algumas inversões de palavras.) Uma frase porém foi a que mais chamou a minha atenção e leva-me a escrever este texto: Aqui tudo é sensato.
Pois é assim que escrevo, de forma sensata. É o meu jeito de cantar e contar histórias. Tenho um bloquinho de notas aqui no computador, frases interessantes que leio, na maioria das vezes anônimas e que acabam servindo de mote para reflexões e textos. Uma dessas anotações é a seguinte: No ofício de escrever é preciso decidir sobre o tipo de escritor que queremos ser – aqueles aos quais se é fácil alcançar ou aqueles inatingíveis ou que exigem um grande esforço por parte do leitor. Não me lembro de ter tomado uma decisão consciente a esse respeito, mas de repente percebi que tenho estilo próprio e mesmo quando dou asas à fantasia, a minha forma de escrever eu diria que é bastante sensata. Escrevo sobre coisas simples, de maneira simples. Prefiro que me entendam a que fiquem se perguntando: o que ela quis dizer?
A escritora que sou também não leva muito a sério críticas, negativas ou positivas. É claro que prefiro que gostem do que escrevo a que não gostem, mas quantas vezes eu não me perguntei frente a algum poeta genial: mas isso é poesia? Para mim não passa de prosa. Ou ainda: como um poeta tão famoso conseguiu escrever texto tão ruim? A diversidade crítica entre os jurados também nos mostra isso – enquanto um diz que minha poesia é má o outro garante que tenho veia poética. Frente a argumentos tão díspares o melhor mesmo é manter a sensatez.