GRACEJOS DAS CARIOCAS

Makinley Menino

Era mês de Julho e estava de férias. Nunca havia visto tanta beleza juntas como o mar e as montanhas verdes de Ilha Grande, aos poucos eu e o mestre íamos conhecendo seus moradores e seus lugares evidentes. Havia notícias do Pierre, o francês que fabricava barcos na saída da baía como também as histórias daquele lugar maravilhoso. Seria inaceitável não perceber uma das fábricas fechada de salga de sardinhas que iniciou atividades na década de 1930 pelos imigrantes japoneses e portugueses falida a algumas dezenas de anos. Possuía um galpão tipo casarão dentro da comunidade aparentemente abandonado.

Era lá que conseguíamos ligar nosso compressor para abastecer os cilindros de ar de mergulho. Na ocasião, ficaram vazios em uma operação de emergência ao resgate de nossa rede de arrasto na tarde do dia anterior onde fazíamos a coleta de crustáceos e alguns pescados para nossa sobrevivência naquele lugar.

Fiquei pasmado, quando num rolé de reconhecimento encontrei as ruínas do presídio antigo onde me adentrei para conhecer. Era marcante relembrar que Flores da Cunha, Graciliano Ramos, Luiz Carlos Prestes, Lúcio Flávio e também o Fernando Gabeira dentre outros estiveram ali naquelas masmorras fazendo suas marcas nas paredes pagando penitencias de suas aspirações e ideais. Sentei-me, fechei meus olhos e fiquei a imaginar sussurros, gemidos, dores e torturas, senti um clima místico parecido com o de cemitério. Pronto! Estalei os dedos, abri os olhos. Ufa! Era somente uma viagem acordado.

Voltei ao píer, estávamos prontos para embarcar no Cajubi iríamos navegar à cidade de Angra dos Reis/RJ. Era o último dia da semana sexta-feira, dia de voltar para casa, retornávamos pela litorânea Rio Santos vendo todas aquelas praias lindas cercadas de áreas da mata atlântica. Antes, era trivial a parada do postinho, fazer aquele prato feito delicioso com bife a cavalo. Era indispensável também depois de dias submetidos a um banho de gato, tomar um de água doce naquele banheiro abominável.

Ficava ansioso para chegar ao nosso destino e ir ao aterro, caíra na graça de uma jovem e graciosa carioca da Ilha do Governador. Então, pegava aquela banguela de 10 marchas e me dirigia ao aterro, parque próximo ao mar da baía de Guanabara, ao chegar era tradicional encontrar a galera de patins fazendo manobras radicais, fiz amizade com aquela irmandade. E assentado ao meio-fio, ficava horas vidrado com os ases sobre rodas e deixava o tempo passar esperando aquela garota simpática chegar com seu maroto irmão. Ele gostava de pedalar e eu não pensava duas vezes para ficar a pé, mas bem acompanhado.

Na verdade não aconteceu nenhum beijo, só minha orelha ficava vermelha e parecia um fogo com as coisas que aquela gata entusiasmada falava-me ao pé do ouvido, e do irmão revelando-me os desejos dela de rolar comigo na praia, fiquei espavorido. Logo chegou o dia de retornar à Angra, voltar ás aventuras a bordo do Cajubi no clarão de Verolme em meio ao mar, correntezas ventos e todo aquele azul e lembrar concentradamente da formosura da carioca e seus gracejos.

Lá estávamos perseguidos pelo sol, no alcance da brisa do verde mar, sobre o Cajubi deslizando suavemente ao norte e sul, em busca dos mistérios do mar, deslumbrando a rapidez das nuvens desenvolvendo-se e esvaindo-se no céu, como também das histórias, nossas poesias, decompondo-se diante dos nossos olhos com os ventos e ondas magníficas. Logo era noite, éramos espectadores das luzes celestes que brilhavam como milhares de lampiões sobre a regente lua hipnotizante. Nossos desejos misturavam-se aos sonhos, às combinações da claridade celeste das de Verolme e seus navios monumentais.

MakinleyMenino
Enviado por MakinleyMenino em 30/03/2011
Reeditado em 02/10/2011
Código do texto: T2878656
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.