Superação na Separação

Não é que o casamento não tenha dado certo. Deu certo. Por onze anos. Mas acabou. Nove anos extremamente felizes que gerou um fruto lindo que foi um filho. Mas os dois últimos anos, separados pela distância física e excesso de trabalho que foi desgastando... Desgastando... Desgastando... Desgastou.

Como um elástico cansado que nunca mais voltará a ficar do mesmo jeito. E então vem a dúvida cruel... E agora? Sinto-me infeliz dentro desse casamento, mas não vejo motivo algum para me separar... O que fazer? Foi difícil. Muito difícil. Demorei a assimilar tudo e hoje poder falar disso em forma de texto. Afinal, não preciso expor a minha vida, mas estou cansada da cara de espanto das pessoas quando percebem que na minha mão esquerda não existe mais aquela aliança. Escrevo aqui por que sei que de certa forma outras pessoas podem estar passando por isso e acredito que a minha experiência pode ajudá-las na superação.

A gente chora, pensa, repensa, não dorme... A gente imagina como seria a vida de solteira e percebe que estaria mais feliz do lado de lá do que de cá, mas falta coragem. E o filho? E o que as pessoas vão dizer? E meu pai, será que vai enfartar? E agora? Fico infeliz para sempre até que a morte me separe ou mudo o texto do padre e substituo a palavra morte por vida. Até que a vida me separe. Até que a vontade de me sentir feliz de novo me separe.

Então um belo dia a gente resolve ser forte e pede o divórcio. Mas por quê? Poxa! Éramos um casal lindo que mais pareciam ter saído direto de uma propaganda de margarina. Como assim? Pois é... É isso... Acabou. Mas como acabou? 11 anos não termina assim... Tipo... Acabou... Mas e o nosso filho? A nossa vida? A nossa história, os nossos momentos de felicidade extrema... As nossas viagens... Nossas fotos... Tudo... Acabou... Mas não pode ter acabado... Mas acabou ué.

Então a parte da música da Pitty que diz: “Eu estava aqui o tempo todo só você não viu” começa a fazer sentido e você percebe que vai ter que ser muito forte para ir até o fim e buscar aquela sensação de felicidade que está escondida em algum lugar e você precisa desesperadamente encontrá-la.

Você está lá, meio que anestesiada com a vidinha morna que leva e como tudo são flores você acha que é impossível não achar essa vida perfeita. Uma bela casa, um belo carro, lindas fotos nos porta-retratos. Então você se aproxima do que seriam flores e percebe o quanto ela possui pequenos espinhos que foram te machucando com o passar do tempo e que por isso não fazem mais sentido continuarem na sua vida.

Você percebe que é movida a alegria, energia, busca, sensações extremas de felicidade plena... Você precisa disso para viver... E ao se olhar no espelho percebe o quanto está apagada e sem brilho. Sem aquele “algo a mais” que sempre te tornou diferente das outras pessoas. Decide então que ficar medíocre como a maioria das pessoas que se contentam com vidinha morna não é pra você.

Então dane-se! Você abre a porta e diz tô indo! Tem muita vida me esperando. E quando você está indo, percebe que não pode virar as costas para quem amou muito um dia e que de certa forma é muito importante para você. Existe respeito, admiração, carinho. Então você volta, tenta organizar as coisas, tenta pegar uma seringa enorme e injetar no coração de quem de certa forma ainda é amado por você, um anestésico potente capaz de amenizar algumas dores e fazê-lo superar sua decisão.

E você percebe que não adianta. Ele acha que você quer ferí-lo com a agulha da seringa e não injetar o anestésico. Por mais que se tente terminar numa boa, livre de brigas e discussões, sempre fica aquele ponto de interrogação que gera uma avalanche de sentimentos por não aceitar que algo tão lindo pode um dia chegar ao fim.

Mas chega ao fim. Tudo na vida tem começo, meio e fim. Para algumas pessoas o fim pode demorar a vir por que elas sabem dar uma manutenção diária na relação. Como uma plantinha que se deve regar, adubar, conversar e cuidar com carinho senão ela seca e morre.

Impossível uma separação “por nada”? Não. Mas se você parar para pensar não existe “nada”... Existe uma espécie de acomodação com o medíocre, com o básico, com as pequenas chateações do cotidiano que vão aos poucos ganhando mais espaço do que as coisas boas. Uma acomodação com a vidinha mais ou menos e que por não ter brigas e discussões faz parecer que é a oitava maravilha do mundo. Mas às vezes, sentimos falta até da discussão. Sentimos falta daquele carinho de namorado, daquele algo a mais, daquele abraço confortante, daquele gesto romântico e encantador que faz com que flutuemos ao som de Carmem de Bizet... Sentimos falta da poesia, da cor, da luz, da gargalhada... Sentimos falta de um tempero mais forte capaz de te tirar da rotina e fazer teu corpo tremer de tesão.

Quando tudo parece se acomodar e as coisas ficam mais claras, as feridas começam a fechar e temos que assumir o papel de divorciada. Então a primeira preocupação é: E agora? Como conto para meu filho sem que ele sofra? Primeira opção, procurar uma psicóloga para com ajuda dela saber como agir com o filho. Ok. Escolha acertada. O tempo começa a passar. Você lá retomando a vida e se redescobrindo como mulher independente e livre. Começa a cuidar de você, curtir seus momentos de solidão quando o filho vai passar o final de semana com o pai.

Ah! Os momentos de solidão. Maravilhosos quando se abre um vinho, liga-se uma música com todos os abajures da casa acesos (porque marido não gosta que acenda a luz para não gastar dinheiro) e você lá organizando suas coisas com prazer... Lá pelas tantas pede uma comidinha maravilhosa e vai dormir a hora que bem entender depois de ler um livro inteiro sem interrupções. Você vai à locadora e pega muitos filmes, chega em casa e se delicia com uma pratão de pipocas e muito chocolate em meio a gargalhadas e momentos de reflexão. O tempo é seu. Só seu. E você pode fazer o que bem entender com ele. A única parte ruim é quando filho adoece longe de você e então você se sente a pessoa mais culpada do planeta por não ser uma mulher submissa, medíocre, medrosa e infeliz e continuar casada para pelo menos não ter que passar por isso de vez em quando.

O difícil é explicar para os amigos que não queremos sair e que não estamos querendo cortar os pulsos, mas apenas redescobrindo a liberdade e o prazer de estar sozinha por escolha própria. Curtindo os momentos de solidão. Fiquei acompanhada por 11 anos, com licença, quero ficar sozinha um pouco, pode ser?

Para completar começamos a descobrir que somos muito importantes na vida das fofoqueiras de plantão que quando descobrem que foi uma separação por desgaste e distância física ficam tremendamente decepcionadas. Elas queriam algo com traição, de preferência com alguma história de que um dos ex-cônjuges pegou não sei quem na cama com outra ou então se tivesse uma ménage a trois na história ia ser melhor ainda. Mas pô! Coisa sem graça separar por desgaste... Coisa chata! Nem dá para enfeitar um pouquinho com algumas baixarias e humilhações em público.

E se o casal continua amigo então... É o fim! Bom mesmo é separação com crimes passionais... Histórias de retalhamento de algum pedaço do corpo, chantagens emocionais e muito sangue. Nem que seja de menstruação numa boa briga que prove que não existe filho de nenhum amante na história.

Como moro em cidade pequena, posso apreciar os olhares... As pessoas olham pra gente com pena como se estivéssemos infelizes por se sentir livre e feliz como há muitos anos não nos sentíamos. Estamos ali quase saltitantes como um veado no campo e a criatura te olhando com cara de pena sendo que ela própria é digna de pena por viver num casamento falido e sem sal. Dá vontade de dizer: Que foi? Não posso estar feliz? Com licença? Tu deixas eu me sentir feliz depois de um divórcio ou ta difícil? Desculpa te decepcionar por estar sem olheiras, continuar frequentando a estética e manter o meu bom-humor intacto, mas eu sou assim ué!

Não importa o que os outros pensem, não importa se a transição será difícil. O que importa é ter coragem de enfrentar e não desistir de ser feliz. Porque a vida é maravilhosa demais para se contentar com migalhas sabendo que o futuro pode te apresentar um banquete. Mas pra isso é preciso atitude. Ir realmente atrás do que te faz feliz.

Existe vida depois do divórcio. É difícil. Mas vale à pena enfrentar o sofrimento da transição para descobrir o que nos espera do outro lado. O melhor de tudo é que temos uma caixa de lápis de cor novinha em folha nas mãos para colorir a antiga vida cinza da maneira que acharmos melhor. Posso garantir que tudo fica muito mais bonito quando está colorido e somos pessoas muito melhores quando estamos felizes.

Renata Miranda
Enviado por Renata Miranda em 31/03/2011
Reeditado em 31/03/2011
Código do texto: T2881330
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