O ESPERTALHÃO

Era uma vez um menino triste meio alegre, magro barrigudinho, baixo feito tamborete de forró, cabeça achatada estilo coité, cabelo da cor de burro quando foge, de olhar de cachorro quando cai da mudança e com chinelos da cor do farinheiro de Nossa Senhora do sertão baiano, conhecido e respeitado por toda a região. Mas ele não era conhecido pelas características físicas, mas sim pelo fato de ser do tipo que perdia um amigo, mas nunca perdia a piada.

Certa vez um forasteiro ficou sabendo das artimanhas do moleque e resolveu tirar uma com a sua cara. Foi procurá-lo e, como se estive com sorte, nada demorou para encontrá-lo. Na suadeira danada do meio-dia o menino estava sentado numa pedra, à beira da estrada camuflada pela poeira imaginando bobagem quando de repente passou o marmanjo a cavalo, parou ansioso para interrogá-lo:

- Ahahahahaha! O que você está fazendo debaixo desse sol tinindo de quente menino?

- Antes quase nada, mas agora estou respondendo um nada sabe!

- Ahahahahaha! Deixa de piadinha menino, onde você mora, hein?

- Em minha casa, ora! Onde mais poderia ser?

- Ahahahahaha! E onde é a sua casa?

- Lá onde foi construída...

- Você só sabe encher o saco, né? Quem é o seu pai?

- É o marido da minha mãe.

- Ahahahahaha! E quem é a sua mãe?

- É a esposa do meu pai, obviamente.

- Ahahahahaha! Isso eu já sabia... Oh, trapalhão.

- Já? E para que perguntou?

- Ahahahahaha! Gosto de ficar informado.

- Por acaso o senhor sabe porque o bode defeca umas bolotinhas pretas?

- Não, meu filho, isso não...

- Não estou dizendo, o senhor não entende nem de merda.

- Não estou achando graça nenhuma...

- É... E nem vai achar, pois as pessoas aqui não perderam nenhuma piada.

- Oh, menino, deixa de brincadeira, saindo daqui aonde eu vou dá?

- Hein, quero dizer: onde o senhor quiser uai... Isso não é problema meu. Tampouco vai doer em mim!

- Ahahahahaha! Estou perguntando onde fica a próxima cidade, danadinho!

- O senhor não explicou, fica um pouquinho antes da segunda.

- Se você não me responde nada sério, como eu vou chegar lá?

- Tchau seu moço...

- Uai, porque tchau?

- Porque agora mesmo eu vou lhe responder...

- Ahahahahaha! Eu sabia que você ia me responder de modo sério! Como?

- Ora, como um bobo que não consegue tirar uma nem com a cara de uma criança pouco vivida. Ahahahahaha! Ahahahahaha! Ahahahahaha! Ahahahahaha! Ahahahahaha...

Ao som das gargalhadas do guri o forasteiro retornou à sua terra bufando de raiva e nunca mais voltou à região do menino espertalhão.

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 05/04/2011
Código do texto: T2890965
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