SABER OUVIR

Uma amiga, ontem, me telefonou para contar que seu marido estava internado na UTI, ficando mais de trinta minutos conversando comigo.

Ao procurar conciliar o sono, lembrei-me desse amigo, acabando por não dormir. Perdi o sono, porque vi a necessidade das pessoas serem ouvidas, desde a mais humilde até aquelas mais letradas.

Fico surpresa quando estou na sala de espera de um consultório, na fila do caixa de um supermercado ou de um banco, em hospitais, dentro de farmácias ou em outros lugares e sou abordada por pessoas que nunca ví e que começam a contar seus dramas.

Um dia uma senhora, com lágrimas nos olhos, contou-me sobre o assassinato de seu filho em uma briga de rua e da saudade que a estava matando aos poucos.

Os pais de um jovem, desesperados por não saberem mais como lidar com o filho consumido pelas drogas e já com alucinações, gastaram tudo o que podiam com internações, sem resultado.

Da mãe com um filho paraplégico, devido a um acidente.

Da filha contando da prisão do pai por latrocínio.

Da moça desiludida com seu namorado que a trocou por outra...

A outra feliz, falando de seu primeiro namorado que escondia dos pais.

A decepção de outra que a uma semana do casamento, viu seus sonhos caírem por terra, pela desistência do noivo em casar.

Do marido desesperado com a mulher em estado terminal, que lhe deixaria três filhos pequenos para ele criar.

Da senhora idosa chorando porque não queria morar no asilo, mas os filhos a rejeitavam.

Nessas ocasiões, procurava sempre dar-lhes uma palavra de conforto, acreditando que isso serviria para aliviar suas dores.

Encheria páginas para contar os dramas, as alegrias, as tristezas e as dores de pessoas que depois de contarem suas histórias me agradeciam.

Não só pela atenção que lhes dispensava como também pelo simples fato de tê-las ouvido, sem mesmo saberem quem eu era.

Cheguei a conclusão de que, hoje, o melhor consolo e o maior carinho que podemos dar a um ser humano é saber ouvi-lo.

As pessoas estão cada vez mais egoístas pensando em si e esquecendo de olhar para os lados.

Distribuir um sorriso, um olhar carinhoso, estender as mãos, compartilhar uns minutos com essas pessoas só nos enobrece.

Vamos reciclar nossa maneira de ver as pessoas sejam elas pobres, ricas, amigas ou desconhecidas.

Todos têm suas histórias , algumas boas, outras ruins e sentem-se aliviados quando alguém os ouve.

Doar dignifica, enaltece e eleva nosso espírito.

Vamos mudar nossa maneira de pensar.

Pietra
Enviado por Pietra em 12/11/2006
Reeditado em 12/11/2006
Código do texto: T289445