Entrevista sobre a chacina de Realengo no Rio





                                             Um homem que mata a tiros e a sangue frio 12 crianças em uma escola do Rio de Janeiro, não está evidentemente no seu estado mental normal.
                                           No Brasil, um caso desses não tem precedentes, ou antecedentes , como queiram. Ao contrário dos Estados Unidos da América, onde praticamente todo ano acontece esse tipo de matança.
                                          Mas esse nosso caso, que é um problema psiquiátrico, nos dá a oportunidade de falar como a população enfoca mal a questão da criminalidade.
                     - Lá, um país de primeiro mundo, resolveram esse problema?
                    - Não. E isso vai continuar a acontecer, simplesmente, porque aquele país tem uma ideologia demasiadamente violenta. Eles acreditam muito nas soluções violentas e aplicam essa ideologia no mundo todo. Adoram armas!
                   - Mas eles dizem que a culpa é do bulling.
- E por que existe o bulling? Eu mesmo respondo: porque eles têm a mentalidade violenta.
                   - O que o Brasil precisa fazer?
                   - Primeiramente, não imitar os EE.UU e parar de achar que os problemas sociais são resolvidos no “muque”, pior, modernamente, no revólver, na cadeira elétrica. Lá eles têm também instituições violentíssimas, que acreditam na punição.
                  - o Brasil está imitando a América do Norte?
                  - sem dúvida. Darei dois exemplos: a população acha, de maneira geral, que criminoso tem que ir para a cadeia, como se a cadeia estivesse resolvendo o problema do crime. Achou, num exemplo específico da América, que os vendedores de bebidas alcoólicas deveriam ir para a cadeia. O resultado foi inverso: os vendedores de bebida enriqueceram e milhares de inocentes morreram naquela guerra burra, na década de 30.
                  - mas o que faríamos, para não dizerem que estamos defendendo criminoso?
                 - no caso do tráfico, até mesmo americanos desejam fazer a experiência de liberar o tráfico, podendo a droga ser vendida em áreas específicas, escolhidas e fiscalizadas pelo Governo. Intensa campanha educacional e tratamento para os viciados. É bom esclarecer que tenho horror a drogas. Mas nesses anos todos alguma coisa melhorou, houve algum avanço nesse combate armado ao tráfico?
               - Realmente, nada. Nenhum mínimo avanço. E a indústria do armamento agradece e adora vender armas!
              - Qual seria o grande avanço na área da criminalidade?
             - orientar o povo para que eles aprendam que não é na área criminal que os problemas sociais são resolvidos. Esta mentalidade agressiva e violenta, criando a cada dia mais comportamentos criminosos, acaba virando-se contra todos nós. O Direito penal deveria ser mínimo, voltado realmente para a segurança da população e retirando do meio social aqueles perigosos que atentam contra a vida da pessoa. Em outras palavras, crimes de cadeia seriam apenas os crimes contra a vida, contra a pessoa. E sem esquecer que o Direito Criminal não atua nas causas, mas apenas nos efeitos.
                    - e os outros comportamentos considerados nocivos à sociedade, como o furto, o estelionato, por exemplo?
                    - posso afirmar que não é a cadeia que vai transformar o estelionatário em um bom cidadão. Existem inúmeros recursos para deter este mau comportamento, desde as multas, até mesmo, já que gostam de prisão, a prisão domiciliar e muitas outras proibições. O que estou advogando é encontrar o instrumento inteligente e adequado para bem aplicar nos problemas sociais.
                  - Finalizando, por que as pessoas querem sempre mandar seus compatriotas para a cadeia e chegam até a se revoltar contra as penas alternativas?
                 - Porque nossa sociedade está baseada na ideologia da violência, cujo exemplo maior é dos EEUU. As pessoas se esquecem que a violência do Estado também gera violência. E se continuarmos a rezar por esta cartilha, outros exemplos tenebrosos como o de Realengo poderão acontecer com mais frequência. Devo dizer, para que não me confundam, que tenho ojeriza a comunismo e sou democrata.
                - o senhor não quer se identificar, mas se tivesse que dizer de onde o senhor é, qual seria o país?
               - diga que nasci e resido na estrela Dalva, felizmente!