O Medo

Gritava aos quatro cantos, de leste a oeste, a ausência do medo (a não ser por lagartixas que, sinceramente, vem diminuindo significativamente).

Mas nunca tive medo de dor. Nem das lembranças. Das histórias. E por mais feridas abertas (hoje, cicatrizes) que eu tenha vivido... Nenhuma delas me impediu de mergulhar de cabeça em qualquer coisa, em qualquer situação. Intensa até o último fio de cabelo.

Eu gosto de altura. Então... Se tem que voar, mesmo que sem asas... Eu voo, sem medo do tombo. Que bobagem!

Gosto dos sonhos, das realizações, das danças, dos sons, do mundo, das léguas, das distâncias e aproximações. Gosto das histórias, das lembranças, das crianças... E vivo cada pedacinho de tudo, sem nenhum receio do durante, do antes ou do depois. Nunca tive medo da vida, muito menos da morte. Sou cria de sonhos, sou filha da sorte. Mas sou, mais que tudo, filha da mãe... filha do pai... E, Meu Deus!!! Que medo assumido eu tive hoje!

Somos escravos do tempo. E, em um dado momento, o “senhozinho” vem nos mostrar quem manda em quem, mesmo assinando carta de alforria.

Tive sonhos destruídos, devastados. O amor, que tanto escrevo e penso me pregou golpes fatais e eu, parecia fazer questão de cair em todos eles. E então, me pego na análise e percebo que não há amor maior que este materno, paterno, fraterno, eterno... E neste amor eu não precisei construir nada. O sonho cresceu comigo, naturalmente, a cada passo, a cada palavra dita, vivida. A cada colo, a cada bronca, a cada olhar de orgulho ou decepção. E, Meu Deus... Como é grande, forte, verdadeiro e como me preenche!

A morte se fez presente hoje em minha vida, como se faz presente na vida de alguém todos os dias. Eu sofri. Chorei a minha dor, a dor dos filhos, dos irmãos, dos netos. E percebi que o tempo passa e que, o que nunca deveria acontecer, acontecerá um dia. E eu ainda não consigo aceitar, imaginar, pensar que ficarei sem eles um dia.

Assumido o medo. – Mãe! Pai! Sejam eternos. Porque eu não suportaria nunca viver sem vocês. Porque se há algo de bonito em mim... só existe porque vocês existem aqui. E eu, tão despida de qualquer medo, reluto qualquer idéia de ficar por aqui sem vocês. E eu, egoísta como não gosto de ser e contrária às regras como sempre sou, peço: - Me deixem, por favor, partir antes.