O casamento acabou ?

Maio se aproxima. Mês das noivas. Ponho-me a refletir sobre o que é feito hoje com o casamento, uma das mais belas e românticas instituições criadas pela humanidade, existente desde a Antiguidade. Sou casado há cerca de 30 anos com a mesma mulher. As vezes brigamos, como é natural nos relacionamentos entre as pessoas. Divergimos, discutimos, acusamo-nos mutuamente. Mas, passados os momentos de raiva, voltamos às boas. E assim vamos vivendo a nossa vida, com bons e maus momentos. Nunca nos separamos porque, apesar de todo o desgaste no relacionamento trazido pelo tempo de convivência, ainda nos amamos, ou melhor, nos amamos cada vez mais. Agora um amor fortalecido por anos de companheirismo, de lutas, derrotas e vitórias. Em tempos idos, diríamos romanticamente que somos apenas uma só pessoa, mas hoje, com a nova visão sobre o casamento, já não se pode falar assim. Cada um é cada um e pronto. Talvez esteja certo. Tempo de liberdades – ou liberalidades.

Nestes novos tempos, não se pergunta ao outro se ele é casado. O que se indaga hoje é se o outro está casado. A própria pergunta, feita principalmente aos artistas de televisão, induz ao pensamento de que se hoje está casado, amanhã pode ou deve não estar. Quer dizer, casa-se, mas já deixando em aberto a possibilidade de separação. Isso é a banalização do casamento, como, está se tornando quase tudo hoje em dia. Quem escreveu um texto primoroso sobre este tema, foi o colunista da revista Veja Stephen Kanitz Sobre os princípios do casamento, foi o que li de mais sensato. Para quem ainda não leu, eis parte do texto:

- Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato. Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo "vou sempre amar você", como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. "Eu amarei você para sempre" deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro. Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível. Antigamente, os casamentos eram feitos aos 20 anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gêmea nesse curto período de pesquisa era de somente 10%, enquanto 90% das mulheres e homens de sua vida você iria conhecer provavelmente já depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher "ideal" para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes. Isso significa que provavelmente seu "verdadeiro amor" estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar? O contrato de casamento foi feito para resolver justamente esse problema. Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas. As promessas e os contratos preenchem essa lacuna, preenchem essa incerteza, sem a qual ficaríamos todos paralisados à espera de mais informação. Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei centenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia". Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento. O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm. Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente, se sua esposa se transformou numa megera ou seu marido num monstro, ou se fizeram propaganda enganosa, a situação muda, e num próximo artigo falarei sobre esse assunto. Para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo.

Roberti
Enviado por Roberti em 10/04/2011
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