OBSERVAÇÕES PESSOAIS SOBRE O TRANSTORNO BIPOLAR

Tenho meus períodos que gosto de ouvir um ou outro tipo de música e como comecei a fazer a coleção do “Tim Maia” foi o som que eu mais estava escutando.

Eu li a biografia escrita por Nelson Motta sobre a vida dele, pois ele marcou a minha adolescência com as suas músicas embaladas como “Você” e “Primavera”. Sons que me atingiram direto na veia lá naqueles tempos.

E a admiração se manteve, apesar das mazelas que ficávamos sabendo que ele ia fazendo pela vida.

Na biografia fica claro que, de certa forma, ele usava a música e o sucesso que conseguiu, após muita luta, como revanchismo daqueles que tiveram sucesso antes dele, como o Roberto Carlos e outros que foram da sua turma, como se tivesse alguma mágoa e pelo lido, injustificadas.

Na realidade ele tinha as suas dificuldades de fórum intimo e buscava brigas aonde não precisava. Foi plantando pedra por pedra o futuro que acabou tendo, infelizmente, pois tinha muito carisma e talento

Mesmo com o sucesso ele não baixou a bola para uma vida mais estabilizada.

Parecia que ele estava sempre em guerra com alguém, mas no fundo era com ele mesmo, contra as suas frustrações que, ao não desaparecem com o sucesso, tão almejado e merecido, manteve ou até potencializou as suas lutas contra os seus fantasmas com rebeldia e muita droga.

Ele ao mesmo tempo precisava das pessoas e quando as conquistava parece que fazia de tudo para perdê-las novamente.

Hoje a medicina o diagnosticaria como bipolar ou unipolar (vive em euforia exponencial)

Estes transtornos, hoje tão conhecido por todos e bastante difundidos, felizmente, pois com o diagnóstico veio a compreensão e com ela a desmistificação e o tratamento, mas naquela época o sofrimento de quem tinha este transtorno o levava realmente a viver no fio da navalha.

As pessoas acometidas até precisavam desta adrenalina toda para continuar vivendo.

Conheci muitos destes “doidos” que faziam da vida uma roleta russa vivendo em extremo arrojo. Eu diria que é uma doença que explodiu nos anos sessenta, quando houve os ares de maior liberdade e mais independência das famílias e das religiões cerceadoras, além das drogas, embora sempre tenha existido, que o diga Nietzsche.

Acredito que a bipolaridade surge no momento em que a pessoa, ainda jovem, começa a lutar contra a extrema reclusão interior, o extremo terror social, que as imobilizava e para não continuarem encolhidos eternamente nos cantos, totalmente retrancados, partem para a luta de superação e acabam com isto indo para o outro extremo, graça às suas inteligências e mecanismos próprios desenvolvidos.

Aprendiam a se articular, camuflando o terror, e acaba, no final, se tornando o centro da roda, mas sem superar o problema que ficava lá no fundo da alma, sempre onipresente, e por isto viverem sempre em marcha esticada fugindo eternamente da possibilidade do encontro daquilo que ficou lá no fundo que era a plena imobilidade ocasionada por aquela extrema fobia social que tiveram desde que nasceram.

Tinham que viver nestes exageros para continuarem a manter o espaço que, se não agissem dessa forma “turbinada”, não teriam nenhum, pois se sentiriam acuados e imobilizados pela sociedade, com a qual aí não conseguiriam interagir de forma satisfatória.

A sociedade e a sua incapacidade de conviver com ela era o bicho papão a vencer todo o dia, pois como a cabeça de medusa, você nunca consegue vencer. A cada uma decepada já nascia outra no seu lugar. Uma luta sem trégua de fuga do fundo do poço.

Todos aqueles ídolos como Jimmy Hendrix, Janis Joplin e outros, assim como o Tim, levaram vidas que não poderia ter outro fim.

Há um “tempo” para se achar algum equilíbrio e, se não conseguido, o fim normalmente é trágico, pois a euforia precisa sempre de mais alimento até chegar um momento que as defesas artificiais construídas vãos desabando e com isto o seu portador.

O primeiro passo para uma saída é a necessidade absoluta de se conscientizar que o errado está em si e não no meio à sua volta e com isso voltar todas as suas energias para a busca de uma solução para os seus dilemas.

Há a necessidade deste reconhecimento e com este a humildade para buscar uma solução.

Quando o cotidiano da vida deixa de ser prazeroso a estas pessoas, ela como recurso de sobrevivência, não importa se é famosa ou não, ela acaba indo atrás de substâncias ou tomando atitudes sempre de limites, longe da sua natureza amordaçada, para agüentar o dia a dia e com o tempo acaba não se dando conta de que é ela que está errada e não os outros; que é a vida deles que é ruim e não a dos outros que eles passam a considerar como “caretas”.

E não são os outros que são “caretas”, como eles pensam, pois eles agindo de tal forma, a mil, passam a ser o centro das atenções e até invejados por muitos, pois, aparentemente, não possuem as limitações sociais que todos possuem e por isso passam a achar que a vida dos outros, sem isso, não tem graça, quando é o contrário, como, com certeza, pensava o Tim.

Se estas pessoas param, se limitando ao cotidiano, sentem um vazio tão grande que violentamente as jogam novamente para o frenesi do agito de volta com medo da depressão que está sempre lá no fundo só aguardando a baixa da guarda.

São incapazes de viver o dia a dia normalmente e precisariam de uma ajuda que nem sempre procuram, pois nem sempre se consideram doentes.

Não se permitem continuar parados em algum canto, pois não é um estar natural neles e sim sepulcral e imobilizador, como se sentem, em menor grau, os alvos de bulling, imposto pelo meio social e já vão para o ataque, como um “contra ataque”, mas sempre no final das festas irá sempre se sentir vazios e tristes; sempre sentindo que ficou
faltando algo nas relações que teve lá naqueles lugares em que estavam.

Prevalece sempre no final, a partir de um momento, a sensação de vazio e se sentem impotentes contra isso, sofrendo então, isoladamente, uma triste melancolia.

A sensação do vazio vai sempre persegui-las, por isto não podem parar nunca, pois se pararem vão se sentir vulneráveis e isto elas não agüentam e acabam criando sempre uma imagem oposta, que vai pro outro extremo, pois para elas não existem um centro e sim só os extremos e um deles é insuportável para elas que é o da completa imobilização pelo terrível medo do convívio social e o outro uma vida sem limites.

E, no caso de muitos, como os aqui retratados, dê-lhe droga, o que não vai ajudar em nada.

O Tim foi criando uma situação tal, com quarenta e poucos anos, que se tivesse continuado a viver, não iria suportar, pois iria primeiramente à falência, pois já estava desacreditado como pessoa cumpridora dos seus compromissos.

E a cada show que deixava de ir, era menos uma pessoa para contratá-lo no futuro e mais um processo que passava a responder no presente.

Usava a droga como quem bebe água e se sentia acima de tudo com isso, como mostrava as brincadeiras que fazia nos palcos com relação a elas assim como outros “ícones” que surgiram na mesma década que ele, como Janis Joplin que gostava de aliciar outras pessoas para o vício e, no caso dela, ainda vibrava quando conseguia isto.

O mundo não gira ao nosso redor, que é como acabam pensando no final quem tem este distúrbio e para se equilibrar no meio social teriam é que procurar encontrar o caminho do meio, o nosso ponto de equilíbrio interior para interagir normalmente com as pessoas em redor.

Mas este é o x da questão, encontrar este ponto, pois o bipolar foge a mil do pólo negativo que é onde está a imobilidade e a sensação de impotência causada pelo seu terror social e com esta velocidade vai direto para a outra frente da batalha.

Uma vida cansativa.

A verdadeira alegria da vida está em nos aceitarmos com as nossas qualidades e nossas deficiências, e vivermos o cotidiano com satisfação, mas eles simplesmente não conseguem isto, pois vivem na certeza equivocada, claro, que não possuem nenhuma qualidade boa para uma vida natural.

Se sentem, lá no fundo, como o xixi do cavalo do bandido.

E é nos pequenos momentos do dia a dia que está a verdadeira vida, o relaxamento, a alegria, e onde devemos encontrar os momentos felizes.

É nele que vamos encontrar e fazer as nossas verdadeiras amizades e é nele que as pessoas vão ver tanto o que nós temos de bom e tanto o que poderíamos melhorar, como qualquer ser humano, mas para o bipolar não existe este tempo: o tempo do meio.

Ou ele domina ou é dominado.

Para ele não existe o centro e sim só o “ser o centro” ou o “ser ninguém”, mas não é por vaidade, é simplesmente por incapacidade, mas ele tem que chegar à consciência que a culpa não está nos outros e procurar ajuda, pois hoje tem tratamento.

Acabou o bicho papão.

Muitas fortunas, muitos atormentados filósofos e muitas passagens importantes que a humanidade teve se deveu à portadores deste mal, pois, para sobreviverem no seu inferno particular, muitos acabam desenvolvendo um senso de observação, sensibilidade e inteligência muito acima da média e aprendem como ninguém a conhecer as pessoas; de onde vem daí o seu poder de atração.

O sofrimento e a falta de paz os impulsionam à frente, mas também tem o seu lado negativo, pois muitos dos maiores criminosos ou tiranos que passaram para a história como arrojados ou românticos, com certeza, também sofriam deste mal.

E também estão entre eles os muitos tiranos que encontramos no dia a dia, mesmo no seio familiar.

Bom para quem está na sua guarida, mas coitados de quem eles vêem como adversários.

Grandes expoentes nas suas áreas como Paulo Francis, que eu admirava, e que também tinha muitos processos judiciais nas costas.

Ele não diria que era, mas possuía os ticks.

Os bipolares possuem absoluta certeza de que estão certos e, na maior parte das vezes estão, e aprendem como ninguém a usarem estes conhecimentos e a manipulá-los, posendo usá-los de forma éticoa,ou não, pois como em qualquer grupo social existem os éticos e os inescrupulosos.

Eu diria que para os primeiros há cura, mas para os segundos é mais difícil, pois não abrem mão dos poderes que adquirem.

Os processos de domínio que eles desenvolvem se dão por eles não terem medo das conseqüências dos seus comentários, ou atos, e, no fundo, acham que não possuem nada a perder, então acabam se tornando lideres nos seus meios.

Mas, uma coisa é certa: para aqueles que são éticos e de boa índole, todos trocariam tudo o que conseguiram para poderem ter um pouco de paz e serem mais felizes.

Normalmente na infância ou são crianças muito tímidas, beirando à doentia, ou extremamente expansivas, mas em ambos os casos estão acima do ponto e não por último, muitos se tornam totalmente insensíveis perante os sentimentos alheios.

Ser tímido na infância é uma característica, que apesar de incomoda para alguns ou muitos, não chega nem perto do que sentem os futuros possíveis bipolares.

A introspecção deles é diferente; é uma incapacitação de comunicação muito ligada ao medo.

Um medo medonho de tudo e de todos. Um medo imobilizador que não deixa saída a não ser desenvolver, por instinto de sobrevivência, alternativas que o acabam levando ao outro lado, sem conhecer o meio.

Chegando neste estágio normalmente são amados ou odiados, mas não passam em branco.

As músicas do Tim, que eu estava ouvindo e citei lá no começo, estavam atuando um pouco forte em mim e vi que estava dirigindo de forma mais agressiva.

Parei de ouvi-las e a calma voltou ao meu volante.

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"Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de sí mesmo' Roselis von Sass - graal.org.br