O MISTÉRIO DA SANTA CEIA

A pedra angular – aquilo que de fato conta na doutrina cristã – é a promessa da ressurreição. O resto são incensos e velas. Antigas crenças já acenavam com esta possibilidade auspiciosa. Contudo, somente após o infeliz praticante passar por inúmeras reencarnações, que dependendo de quantas e quais besteiras cometera, poderia reencarnar num urubu, jacaré, cavalo... ou gente humana! Isso, até aparecer um certo judeuzinho encrenqueiro, chamado Jesus, que anunciando suas verdades chicoteava os hipócritas fariseus no Templo. Todavia, aos que tomassem sua cruz, em compensação pelos infortúnios padecidos nesta vida, garantia Ele a irrecusável morada celestial (felicidade eterna e plena), ressuscitando-lhes de dentre os mortos, uma vezinha única.

Enquanto profetas antigos e antiquados – no geral uns caras piradões - cismavam em se mudar pro deserto, à espera de uma comunicação direta com Deus: ali comendo insetos e bebendo água do sereno; o Homem de Nazaré anunciava uma nova rota para a eternidade, com sacrifícios menores e observação a um mandamento apenas: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” Ah, meu irmão, minha irmã, de longe parece fácil, mas existe tanta coisa na vida que se pode amar mais do que a Deus... sem contar que de certos próximos é bom ficar bem distante!

Saibam, compungidos leitores, aquilo que se passa na mente artibulada deste sujeitinho travestido em cronista de fim-de-semana: eu havia planejado iniciar o texto assim – “Quando se entra na casa de um cristão, geralmente na copa, pende da parede o quadro da representação da última ceia de Jesus e seus doze apóstolos. Eles não estão numa igreja adornada de ouro, nem num suntuoso templo de finos mármores, mas numa sala emprestada cuja mobília é uma grande mesa de madeira...” Porém, faiô!

Dentre as obras que retratam esta Última Ceia, sem dúvida, a mais conhecida é a valiosa tela de Leonardo da Vinci. A que possuo – inteiriça e de cedro entalhado, que da parede da copa acredito abençoe minha casa inteira, veio de mais perto: exatamente da cidade de Juazeiro do Norte, no sertão cearense, comprada que foi a um artesão de rua, numa feita que por lá peregrinei ao túmulo e estátua do padim padre Ciço.

O que me incomoda, no sentido de fazer pensar, é que tentando reconhecer seus treze personagens, não consigo ir além de três figuras. Óbvio, Jesus está no centro, ditribuindo pão e vinho! Ao seu lado, tendo Lhe a cabeça reclinada ao ombro, está João, o discípulo amado. Mais distante, o outro reconhecido é ninguém menos que Judas, e sua inconfundível sacolinha de dinheiro! O embaraçoso, tanto na tela quanto na peça de madeira, é que Jesus serviu igualmente vinho e pão ao discípulo amado, e ao Iscariotes... Então, o traidor comungou! O que quis o Mestre nos ensinar com isto?

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 17/04/2011
Reeditado em 17/04/2011
Código do texto: T2914496