Esmoler ou esmoler, eis a questão!

Mendigar! Situação que incomoda pessoas sensíveis ao sofrimento de seu semelhante. O coração bondoso, sempre que pode, acolhe as súplicas de quem vive sob a caridade alheia. Pedir esmolas para si é um doloroso estado de indigência, senão o mais grave na escala da degradação humana.

A pobreza extrema dos que vagam errantes pelas ruas das grandes cidades, implorando um pedaço de pão, deveria envergonhar as autoridades que “cuidam” do aspecto social e humanitário do mendigo nas metrópoles brasileiras.

Nossos governantes são hábeis dissimuladores de suas ineficientes gestões. Costumam alterar certas denominações vernáculas, amenizando-lhes o significado contundente. Visando abrandar a força degradante da palavra “mendigo”, criaram termo que dizem ser politicamente correto; daí, a expressão “moradores de rua” surgiu para designar esse infeliz grupo social que, só em São Paulo, alcança 10.700 pessoas, conforme divulgou a FIPE–Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.

Isto, em 2003.

Hoje, o número poderá ser maior.

É bem possível que seja.

A quantidade de ricos no Brasil cresceu muito nos oito anos do governo passado; o contingente de pobres, todavia, foi artificialmente alterado por falsas pesquisas. Para menos. A maquiagem favoreceu a popularidade do então presidente da República, personagem que soube aproveitar os bons ventos da popularidade proporcionada pelos excessivos gastos com sua propaganda pessoal.

Algumas palavras do nosso idioma, alteradas com a intenção de suavizar-lhes o significado, como disse, talvez sejam herança da língua adotada dos portugueses. Por exemplo, o dicionário Houaiss designa a palavra “esmoler” como “a pessoa que tem a incumbência de distribuir esmolas” e, conforme a região do Brasil, diz-se “do que vive de esmola; o mendigo; o pedinte”.

Dependendo, pois, de sua naturalidade, o indivíduo poderá ser classificado como doador ou donatário. De qualquer forma, um esmoler, dependendo, conforme o caso, de dar ou receber alguma coisa. Será, portanto, benevolente doador ou agradecido donatário.

Nem todo morador de rua é esmoler.

Nem todo esmoler mora nas ruas.

Muitos dos que perambulam pelas artérias dos grandes centros urbanos não são propriamente mendigos. Alguns dormem ao relento, sobre as marquises de prédios comerciais, por lhes faltar dinheiro suficiente para o transporte de retorno ao lar, de onde se afastaram a procura do emprego que teima em não vir ao encontro de suas necessidades cotidianas.

Nas palavras eleitoreiras do governo petista, o número de pessoas saídas da extrema pobreza atingiu, nos últimos anos, trinta milhões de felizes beneficiários. A classe média do país, com seu ridículo patamar de rendimento financeiro, estabelecido para conferir-lhe tal status, alcançou o auge do megalômano levantamento estatal.

Até 2009, a mendicância em nosso país era proibida por Lei. Pedir esmolas, pois, era contravenção penal. A Lei 11.983, do mesmo ano, revogou aquele diploma legal, exagero que impedia o necessitado de recorrer ao auxílio de complacentes corações.

Existem “falsos mendigos”. Os chamados “mendigos profissionais” são pessoas que optam pela mendicância como forma de vida fácil. Segundo autoridades mineiras de Uberlândia, 90% dos pedintes da cidade não necessitam de esmolas. Lá, quem pede dinheiro sem necessidade recebe ordem de prisão. Segundo o Ministério Público, naquela localidade um esmoler chega a embolsar R$ 1.800 por mês.

Eles fazem disso uma profissão.

Os policiais da desenvolvida Uberlândia saem à procura de quem pede esmolas, revistando-os e obrigando-os a se identificarem. Por ser contravenção penal, a infração é penalizada de quinze dias a três meses de detenção, e o infrator ainda responde a processo judicial. Quem, no entanto, provar não ter para onde ir é encaminhado a um abrigo público, permanecendo ali até retornar à cidade de origem.

A população é orientada a não dar esmolas. Assim, não pode ser considerada “esmoler”, pois nem pede nem dar.

Eis a questão, resolvida pelos mineiros.