PALAVRAS ESDRÚXULAS DA LINGUA PORTUGUESA

A linguagem é algo espetacular. Como estudamos em algum dia na vida, a primeira e mais importante necessidade de todo ser humano é comunicar-se. Sem a comunicação, nenhuma outra necessidade seria saciada. Percebemos os esforços por parte de diversas comunidades em se entenderem. A distância etária, cultural, regional e até entre a capacidade motora e intelectual gera barreiras. O que provoca a vontade crucial de se fazer entender.

A decodificação da intenção se faz de várias formas, mas vamos nos ater a algo específico na língua portuguesa, o que não significa que não ocorra nas outras.

Voltemos a nossa atenção para algumas palavras esdrúxulas. Aliás, podemos começar por ela. Não poderiam escolher melhor agrupamento de letras para expressar o que é estranho. O som já nos causa esta sensação.

Para quem precisa se fazer entender, a sonoridade é tudo. Por exemple a palavra defenestrar. O leitor sabe o que vem a ser defenestrar? Pois bem. Imaginem um jornal estampando a seguinte manchete: Mulher foi defenestrada no décimo andar do hotel em que estava hospedada. Logo pensaríamos: Coitada, vai carregar este trauma para o resto da vida. É preciso esclarecer que só se for em outra, porque do décimo andar não se sobrevive quando se é arremessado. Sim... Defenestrar significa jogar pela janela. Agora reflitamos. Para que esta palavra se a intenção é se fazer entender? Não seria mais garantido dizer que ela foi jogada pela janela?

Tenho uma amiga que me chama de pândega. Já vou logo avisando a quem está por perto que se trata de coisa boa, para ninguém achar que sou um imbecil. Não por esta palavra.

Uma vez me perguntaram o que me deixa iracundo. Respondi: Se tudo der certo, nunca ninguém vai chegar perto de mim pra isto. Descobri depois que já chegaram e certamente isto ocorreria muitas vezes ainda. Mas com um grande alívio em saber que iracundo é estar propenso a ira.

Algumas palavras já são mais conhecidas, como pudico por exemplo. Mas cá entre nós, que palavra ridícula para expressar a característica de alguém que se esforça para não ser chulo. Chulo, não vou nem comentar. De igual modo temos a rubrica, que de tão feia, todo mundo insiste em dizer “rúbrica”. Sem falar em sorumbático, macambúzio, energúmeno, que fariam muitas pessoas arrepiarem e outras tantas agradecerem.

Atossicar poderia nos levar a pensar em algum xarope caseiro bem doce ou a uma desintoxicação, mas significa dar maus conselhos. O leitor gosta de catadupa? Não é de comer. Trata-se de catarata. Barista não é quem trabalha em bar e sim especialista em café. Farripa não tem nada a ver com aproveitar uma festinha, significa cabelo ralo. Arrabalde é uma cercania e não um objeto de carregar água. Pagela é pequena parte. Alacar não significa o que o leitor está conjecturando. Significa alagar ou ceder à carga. Tá bom... Dá para fazer uma analogia. Não vou nem comentar.

A próxima, eu vou falar o significado primeiro para que ninguém desista da crônica aqui, se ainda não fizeram. Gorjeta pode ser chamada de xixica. Agora, respondam. Pra que isto? Se alguém te chamar de coquete agradeça, mas não faça muito alarde.

Ósculo é beijo; édulo, comestível; solipso, egoísta e diga-se de passagem o oposto a solícito. Temos também isagoge, acobilhar, estau, acontista, suble, mesto e por aí vai com inúmeras palavras da nossa língua portuguesa. Tem umas que não tenho nem coragem de colocar aqui. Nem o meu Word identificou as que coloquei, pois o meu texto está todo grifado de vermelho.

Bom... Vou inerciar esta arasia, este acarear do erudito ao popular, pois careço de cercear o meu ofício. O tempo urge e até o momento não estou imberbe. Para ser mais claro. Vou parar com a conversa “fiada”, porque tenho de trabalhar. Estou atrasado e nem fiz a barba ainda.

Algum herói chegou até aqui? Prove-me mandando um comentário.

Até a próxima palavra!