CRISE DE CIÚME

Cuspa na minha cara o leitor que, não digo fez apenas uma, porém um punhado de besteiras por conta de rabos-de-saia! Daí, porque também rejeite que me apontem qualquer dedo – que não sei por onde andou –, como fora eu um réprobo. Tudo bem, não sou santo e nem pretendo ser. Dispenso a visão do Paraíso, como um lugar onde se passe o resto da eternidade a catar florzinhas no prado e entoar hosanas. Prefiro imaginar que torrarei os cornos em companhia do Coisa-ruim, no Inferno!

Este rompante todo, para contar que estando numa nesga de terra

de que sou proprietário, no lado de cá da margem direita do Rio São Francisco e que melhor uso faço quando ali me escondo da solidão, ouvindo a orquestra afinada dos passopretos, bem-te-vis e canarinhos nas frondes do bambuzal – que cheio de reverência curva-se ao vento vindo do Sul, como um maestro ao fim de recital... Quando meu celular acusou recebimento de mensagem escrita.

Podem me chamar de desmazelado: o aparelho estava sem créditos. Impossível responder! Sim, porque eu naquele oco de mundo transportando peões para conserto de cerca, roça de pasto... e ela me azucrinando sem a menor sutileza, com uma perguntinha básica: “Você não levou periguete para este ranchinho aí, não – né, seu velho babão?!” Antes que algum leitor, do estopim curto, me xingue de frouxo, pergunto: acaso você conhece ela?

Eu conheço, e bem, por isso deixando a companheirada no eito pulei na boléia da caminhonete e viajei uns dez quilômetros, de arrepio na rodovia, até um posto de combustíveis onde sabia de certo orelhão na loja de conveniências. Maldita hora que lhe dei de aniversário um aparelho celular, com que além de falar e ouvir ela tira fotos, filma, e até instalou um programa para me rastrear... Mesmo estando acolá dos montes que formam a Serra da Mantiqueira... em terras fluminenses!

Generoso leitor – calcule se a diaba atendeu? Claro que não. Faz parte do charme feminino. Como era de minha competência, deixei um recado fonado na caixa postal dela, lamentando tudo... inclusive a perda da viagem; e montei de novo em minha carruagem prateada, de não sei quantos cavalos no motor, regressando à fazenda.

Eu nem saíra da estrada asfaltada, entrando no meu pedaço de chão, e o celular chacoalhou nervoso na algibeira da camisa: outra mensagem dela! “Então, o rapaz clarinho voltou pra roça? E como era aquela fulana no caixa da loja de conveniência: loura, peitões, bunduda?” Na verdade se tratava de uma talzinha sem-graça, branquela como eu, baixota, umas gordurinhas sobrando nas cadeiras... Mas chamado nos brios não neguei fogo: dando um cavalo-de-pau na rodovia, e sem usar o acostamento, logo estacionei no pátio do posto para falar da Angelina Jolie, enciumando mais a carioquinha do brejo.

Porém, conhecendo a fera, passei o resto dia que nem bobo, olhando para as nuvens... e qualquer barulho no céu, já me colocava em alerta: pois não custaria nada aquela maluca alugar um aviãozinho e saltar de pára-quedas aqui na roça... E o pior (ou melhor!) da estória é que me olhando no espelho constato: não tou com nada no balaio – sou míope, baixinho, careca, e demora pouco começo a mijar nos cadarços dos sapatos! Essa mulher ainda me mata - disso!

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 24/04/2011
Reeditado em 14/03/2012
Código do texto: T2928107