Festival de Arte de São Cristovão!

Festival de Arte de São Cristovão!

Nas ruas de São Cristovão, na quarta cidade mais antiga do Brasil.

Já fui menino, fui soldado e fui artista! Fui muleque de feira, na escola onde aprendia a história e a romaria.

Naquela terra fervia o encontro e a emoção.

Ainda pequeno já freqüentava os festivais, que pelo braço era carregado, como imposição, só vai se levar seu irmão.

Assim disse minha mãe, a irmã mais velha que se via sem alternativa.

Só restava a decisão, de levar seu irmão que de nada entendia.

Enganado pela burguesia, tome aqui um tostão.

Estava aí o mistério, do seu encontro precoce da arte que corria em seu sangue que fervia, quando andava na multidão.

Mas chegando lá eu era eu, ou seja, só eu.

Caminhando e cantando e aprendendo a arte de gostar de festival.

Já dormi nas calçadas e embaixo do banco da praça, dessa vez sem guardião.

Já recebi abrigo, dos amigos que tanto me orgulho nos dias de festival, sentindo-me mais seguro. Das mais variadas apresentações, a arte que vinham de todo os lados.

Vinha de muito longe, de São Paulo, Minas, Pernambuco e Bahia, sem esquecer a Prata da casa, atração que não podia faltar.

Como Amorosa, Chico Queiroga, Paulo lobo e Antônio Rogério, Sena e Sergival e muitas gente boa desse lugar.

Sempre tinha como companheiros o Douglas Junior, Adalberto e Franquestem.

Montávamos acampamento e de anos a anos nosso equipamento melhorava cada vez mais.

No palanque da Praça da comida, a surpresa, alguem se apresentava com sua voz marcante e conhecida, parecia a de Geraldo Azevedo. Mas não era não.

Ao chegar vi com os meus olhos, um jovem que chamo de irmão. Marquinho da Bahia, que fez bonito e encantou quando cantor e quando o vi pela primeira vez tocando um violão.

Nesse dia virei seu fã, que debaixo da ditadura e dos rígidos ensinamentos de sua mãe, Dolores, Vencia mais um tabu, o de cantar e agradar, deixado pra traz o conceito que na arte só pra quem tem talento e só descobre aquele que arrisca e encara a multidão. Parabéns Marquinho por sua apresentação.

Andava de baixo pra cima, de lá pra cá, daqui pra lá, muitos Hippies a abrilhantar a cidade que fervia de gente de toda espécie, de todo lugar.

A festa que todos apreciavam. A arte de vários estilos, sendo cantada, dançada e adorada por sua forte expressão. Nos seus museus, guarda a história de portugueses e alemão. Que por sinal muito bonita, constituídas de velhos casarões, igrejas e praças tombadas como patrimônio da União.

Da quarta cidade mais antiga do país, São Cristovão berço da história, da arte de bater forte o coração.

Pelas calçadas encontrava com muitos amigos, nesse tempo era muito bom, pois ainda não existia a maldade, só a paz no coração.

Tinha apenas algumas batidas feitas pelo mestre Manequito. Manequito, um senhor de idade já avançada que tinha como sobrevivência a arte de preparar bebidas, das mais variadas e versões. Conhecida de muitos turistas levada pra fora de avião. "Rola" era a mais famosa, tinha também "Amansa Corno" das consumidas, a preferida.

Maus momentos, quando a chuva caía, aí a correria acontecia, de gente que apreciava e ali se delirava, quando ganava uma senha que dava direito o almoço com os artistas que se encontrava na concentração.

Saía do refeitório carregado de euforia, parecia carregar um troféu, mostrado com alegria, o da barriga cheia. Chega à noite, raia o dia, mais um dia de folia, o festival acontecia.

Tinha também um lugarzinho que é muito especial o banho de cachoeira que curtia no festival. “Bica dos Pintos”

Nas ruas que muito aprendia a sobreviver sem aranhões com a pouca idade que tinha. O lema era dar as mãos.

Passou o tempo bom, da aurora da minha vida da minha infância querida, aos quais os festivais eu vivia.

Aguardo o ano que vem, para mais uma aventura de participar da cultura mostrada naquelas ruas.

Artesão que negociava suas idéias, sua emoção, atrás da arte que escondia o homem e suas fantasias de um mundo sereno sem confusão de muita paz e amor, regado com emoção.

Era o tema principal que tentava transmitir, a paz com quem ali estava, usando com as mãos o gesto universal de Paz e amor, da massa que abraçava a idéia que contagiava, por todos que participava.

A multidão se aglomerava, na praça principal, onde toda atração acontecia, sendo noite sendo dia sobre os olhos do povão, prestava muito atenção, vestia a roupa mais nova e bonita pra assistir a apresentação.

Assisti certo dia um cantor, Xangai era seu nome, com muito talento representou dois personagens, se fazia de mulher a dividir uma canção, foi aplaudido por todos clamando queremos mais, mais um, mais um etc.

Resumi o festival que de muito me atraiu, dos tempos de adolescente.

Os dirigentes os políticos mais influentes a decretar a decisão de acabar com o festival de arte de São Cristovão. Um Patrimônio da nação.

Hoje o festival acontece apenas dentro da universidade “UFS” Universidade federal de Sergipe. Restrito apenas aos alunos! Quem perdeu mais uma vez foi o povo, o povo que com sua arte sobrevive e contribui na disseminação da arte popular.

O guerreiro Treme Terra do saudoso Mestre Euclides, os Bacamarteiros de Carmópolis, as bandas de Pifis o teatro de rua, a Traíra, Os São Gonçalo etc.

Era de deixar o queixo caído o coração acelerado, com o ritmo contagiante de todos que prestigiava.

Gostaria de mais uma vez voltar aos festivais de arte de São Cristovão, para poder mostrar a meus filhos a importância de preservar a tradição da quarta cidade mais antiga do Brasil.

Escrito em 24 de abril de 2011, por orlando Oliveira.

ORLANDO S OLIVEIRA
Enviado por ORLANDO S OLIVEIRA em 24/04/2011
Reeditado em 08/04/2012
Código do texto: T2928654
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.