ESSA CONVIVÊNCIA MORTAL

    Não há casa em que a morte não tenha visitado(Buda)
        
Na inexorabilidade dela, o homem sente-se pequeno e impotente. Nessa nossa convivência diária,a sua presença é uma constante e uma permanente ameaça. É impossível na nossa materialidade aceitá-la e entendê-la como necessária no reciclar da alma. Essa mesma alma; a qual não podemos ver; não podemos tocar, nem consegue destacar-se frente aos nossos semelhantes. Nossos corpos...sim! Pois as vestes e a aparência, são modificáveis e, ao adquirirem novos visuais , são aplaudidos ou rejeitados pelos que nos cercam.  Não há nenhuma probabilidade de entendimento,entre a vida que pulsa e a morte que exaure. Não existe possibilidade de acordo ou de aceitação pelo homem, seja ele religioso ou não. Mesmo sendo sabedor que na natureza, a reciclagem e o renascer é uma constante; sendo visíveis e palpáveis, nas flores e animais.
       Esse apego a vida, é que nos faz supor, desprezar a morte. Esse valor efêmero da materialidade e da posse, é que nos escraviza ao corpo: já inútil e dependente .
      Nossa alma só recebe os créditos devidos, quando nos sentimos perdidos, e com os dias contados. Principalmente quando ouvimos o médico dizer:      
 - Lamento, mas você tem apenas ...

     Pronto!...A morte agora é certa. Alias, tem dia marcado.  O que antes era certo; mas sem data, agora está datado. E o pior de tudo: Por que, logo comigo!...Comigo não!...  Eu tenho apenas 98 anos, sou novo ainda, tenho muito para ver, coisas a fazer e mesmo numa cadeira de rodas, recebendo comida na boca, sendo lavado pela enfermeira(o), que me ajuda no dia a dia : morrer, não faz parte dos meus planos.
     Pois é, não tem remédio, a partir de agora é com a minha alma. Aquela que sempre desprezei; aquela que alguém me disse ser imortal; aquela, que finalmente irá se libertar desse meu corpo, hoje inútil, e que a aprisionou por tanto tempo.
    Foi necessário ouvir o veredito mortal, para que enfim eu entendesse a minha imortalidade e voltasse a real razão da minha passagem por aqui : Conviver com a morte ao lado, posto que, Ela é apenas um bilhete de passagem, intransferível e que já vem com destino marcado.        
      Morrer não é o fim, é o inicio de uma nova etapa. Mas, como é difícil aceitarmos essa verdade .  
 
          
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 27/04/2011
Reeditado em 28/04/2011
Código do texto: T2935105
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