Além da Dimensão...

Vá além da sua dimensão através das asas da arte!

"Sentir os movimentos que acontecem em um Sarau Lítero-Musical é como interagir através de um caleidoscópio, onde o tempo pára, e , os seus reflexos coloridos transpassam a alma envolvendo-a na pura arte atemporal!"

Ana Marly de Oliveira Jacobino

Caderno de publicações do Sarau Literário Piracicabano

(Sarau Bem Brasileiro) de 12 de Abril de 2011_ Parte 1

Primeiro homenageado do Sarau Literário Piracicabano: Gilberto Freyre

Gilberto nasce no Recife, em 15 de março de 1900, Gilberto Freyre, filho do Dr. Alfredo Freyre — educador, Juiz de Direito e catedrático de Economia Política da Faculdade de Direito do Recife — e de D. Francisca de Mello Freyre.

Aos seis anos de idade tenta fugir de casa, escondendo-se em Olinda, cidade à qual devotou grande amor e da qual escreveria, em 1939, o 2° Guia Prático, Histórico e Sentimental.

Inicia seus estudos freqüentando o Jardim da Infância do Colégio Americano Gilreath, em 1908. Faz seu primeiro contato com a literatura através das Viagens de Gulliver. Mas, apesar de seu interesse, não consegue aprender a escrever, fazendo-se notar pelos desenhos. Toma aulas particulares com o pintor Telles Júnior, que reclama contra sua insistência em deformar os modelos. Começa a aprender a ler e escrever em inglês com Mr. Williams, que elogia seus desenhos.

Em 1909 falece sua avó materna, que vivia a mimá-lo por supor ser o neto retardado, pela dificuldade em aprender a escrever. Ocorrem suas primeiras experiências rurais de menino de engenho, nessa época, quando passa temporada no Engenho São Severino do Ramo, pertencente a parentes seus. Seu primeiro e mais conhecido livro é Casa-Grande & Senzala, publicado no ano de 1933 e escrito em Portugal. Em 1946, Gilberto Freyre é eleito pela UDN para a Assembléia Constituinte e, em 1964, apoia o golpe militar que derruba João Goulart. A seu respeito disse Monteiro Lobato:

“O Brasil do futuro não vai ser o que os velhos historiadores disserem e os de hoje repetem. Vai ser o que Gilberto Freyre disser. Freyre é um dos gênios de palheta mais rica e iluminante que estas terras antárticas ainda produziram. “

Gilberto Freyre foi também reconhecido por seu estilo literário:

As mangueiras

o telhado velho

o pátio branco

as sombras da tarde cansada

até o fantasma da judia rica

tudo esta à espera do romance começado

um dia sobre os tijolos soltos

a cadeira de balanço será o principal ruído

as mangueiras

o telhado

o pátio

as sombras

o fantasma da moça

tudo ouvirá em silêncio o ruído pequeno." Gilberto Freyre

## Com o livro "Casa-Grande & Senzala", publicado em 1933, Gilberto Freyre revolucionou a historiografia. Ao invés do registro cronológico de guerras e reinados, ele passou a estudar o cotidiano por meio da história oral, documentos pessoais, manuscritos de arquivos públicos e privados, anúncios de jornais e outras fontes até então ignoradas. Usou também seus conhecimentos de antropologia e sociologia para interpretar fatos de forma inovadora. Freyre fez carreira acadêmica, de artista plástico, jornalista e cartunista no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Manteve, porém, uma grande ligação com Pernambuco, em especial Olinda e Recife...

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Segunda homenageada do Sarau Literário Piracicabano:

Marly Therezinha Germano Perecin

Uma biografia, que fala ao coração

Certa menina estudiosa e inteligente solicitou-me a biografia. Encarei com espanto, primeiro porque os filhos não crescem não importa a sua origem _se d’alma, do coração ou do sangue; segundo, porque ela hoje empresta a Piracicaba o seu dinamismo como lingüista e literata, terceiro é que por graça da sua imensa alegria interior, ela estremece Piracicaba com o seu sarau: Ana Marly de Oliveira Jacobino!

Não é que a menina cresceu e engrandeceu a cultural piracicabana? Tornou-se mestra, mãe e artista. Esta mesma que me solicitou a biografia.

Já, alertei sobre a inutilidade de considerar uma vida, tão sem graça que cabe na orelha de um livro, mas como ela é insistente cedi. Talvez para me livrar rapidamente do que chamam uma saia justa.

_Falar de mim ou da biografia na terceira pessoa?_ Preferi a segunda alternativa.

Marly Therezinha Germano Perecin nasceu em Taquaritinga, São Paulo aos 6 de novembro de 1936. Se houvesse sido consultada escolheria Piracicaba, pois nesta cidade passou a viver toda a sua vida; cresceu, estudou, casou, teve filhos e neto; sorriu e sofreu como todos os seres humanos porém, jamais se entregou a dor e, quando encerrou o magistério, dedicou-se a escrever.

Vai deixar filhos e livros neste mundo. É medularmente paulista, natureza que revela em suas pesquisas, monografias, livros, opúsculos, artigos e romances. Se o que consta em seu currículo tem significado meramente formal, o que vale é a sua perseverança no duro aprendizado da vida, sem se dar conta da idade. Talvez, este seja o seu único mérito.

Foram seus pais Nestor Soares Germano e Djanira ribeiro Germano, seu marido Noedy Perecin. São seus filhos: Gil, Théo e Nelita (falecida); seus netos: Marcelo, Beatriz, Lucas, Mariana e Marina.

Como historiadora não se espanta com o rápido suceder das transformações, mas as vezes deseja que reinventassem o processo genealógico das sociedades no sentido do aprimoramento da beleza, da inteligência e da bondade, imunizando-se o mundo frente as perversidades e o sofrimento. Não é que seja movida por sonhos e utopias, mas certas contradições alimentam duvidas que só cabem ao futuro resolver.

Finalmente, a última revelação: perante a vida, que de presente lhe é oferecida, esta curiosa como criança em “Noite de Natal”; atenta como segurança em shopping e um pouco inútil como tigela sem tampa.

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Para vocês; “Mestres” na grandeza da palavra; suas vidas entrelaçam com a História do Brasil Ana Marly de Oliveira Jacobino

Hoje ouvimos muito falar em “Resgate Histórico”! Vou além ao afirmar; o que fazemos é “Justiça Histórica”! Você ouviu bem; “Justiça Histórica”.

Gilberto Freyre foi duramente criticado por volta da segunda metade do século XX, como: o sociólogo, que escrevia ensaios e, portanto, não poderia ser considerado um cientista. Esqueciam seus críticos mais ortodoxos, do seguinte e inesperado detalhe: Freyre era sem dúvida alguma um romancista, ele tinha o domínio das palavras, e deste modo, escrevia muito bem! Gilberto Freyre, com esta postura romanceada na pesquisa, dezenas de vezes foi mal compreendido por suas posições diante das suas idéias elaboradas em suas escritas, quanto; a miscigenação do povo brasileiro. Mas, Freyre conseguiu romper o racismo e as tradições do pensamento (1930 em diante), que alardeava a necessidade de haver uma raça pura e junto com a mesma; a existência de um estado com mão forte.

Freyre com seus escritos antropológicos percebe e faz seu leitor perceber; as pessoas, suas religiões, costumes, culinária; tudo isto no âmbito da essência da nacionalidade brasileira. Nos dias atuais, há um movimento de reavaliação das obras de Gilberto Freyre, movimento este, que vai muito além das noções de mestiçagem e democracia racial, hoje, Freyre está sendo revisto para que se possa compreender melhor a questões de globalização e à preocupação com uma nova realidade de migrações e contato entre diferentes grupos étnicos.

Marly Therezinha Germano Perecin veio de encontro a minha vida num momento de fomentar ainda mais uma busca de conhecimento para me fortalecer para um longo tratamento de saúde. Desta maneira, procurei no âmbito acadêmico minimizar a minha dor no corpo!

Eu, re-encontrei a “Mestra” em uma sala toda restaurada da Escola Sud Mennucci. Ela falou sobre a história do Sud Mennucci, alguns fatos e figuras marcantes referentes ao local, eu conhecia, pois já havia por lá estudado. Então, uma aluna contou o fato da sua mãe ter o hábito de mandá-la estudar mencionando; ser a nossa cidade berço de figuras notáveis e concluía a sua fala, com a seguinte afirmação: “Piracicaba é considerada a “Atenas Paulista”.

Recordo-me da serenidade da Professora Marly ao tratar uma gafe histórica dos piracicabanos ao explicar: “O que de fato aconteceu é que um intelectual italiano, cujo nome era: Roberto Capri foi quem primeiro denominou Piracicaba de “Ateneu Paulista”. Ele estava em visita a nossa cidade e viu que aqui havia muitas escolas, um fenômeno para a época, e em proporção numérica, aqui tinha mais escolas que Campinas e Santos, Roberto Capri, deste modo, denominou Piracicaba de “Ateneu Paulista”. Vejam bem! Ateneu é o local onde os intelectuais se reúnem, centro de intelectuais, ele certamente não poderia falar que aqui era Atenas, pois Atenas é a pátria da democracia e Piracicaba nesta época era a terra dos coronéis!

Sempre que possível durante a minha vida acadêmica ou mesmo no magistério, eu busquei ouvir a voz desta historiadora, que tem o mérito de estudar pontos considerados delicados e polêmicos da nossa história sem ser contaminada por eles, sua contribuição vai além de Piracicaba e região; seus estudos históricos são propagados sem limitações de fronteiras. Copilo uma frase do nosso “Poetinha Vinicius de Moraes”:: “Saravá Freyre! Sarava Marly Germano Perecin!

Bibliografia

*Fundação Gilberto Freyre

Villon, Victor. O Mundo Português que Gilberto Freyre Criou, seguido de Diálogos com Edson Nery da Fonseca. Rio de Janeiro, Vermelho Marinho, 2010