Crônicas de um P.A – Realismo ao pé da letra

Emergência de um Hospital publico, Brasília, DF, dia 28 de maio de 2011, 23 hrs 15 min.

- O Senhor esta com dores abdominais, não é isso?

- Dor é, dotor. Mas é no bucho!

- Seus exames chegaram ta com o fígado inflamado, pressão alta, colesterol alto, a diabetes já ta batendo na sua porta. O quadro é de alcoolismo.

- É cachaça mesmo Dotor. Nesse momento o medico aumenta a voz como que se inconscientemente desejasse que a altura da voz, levasse o dito paciente a enxergar a gravidade do seu quadro.

- Não larga o álcool, bebe o fígado inflama, vira cirrose depois câncer no fígado e o senhor vai morrer.

- É doto, mas pelo menos morro de paz cumigo, si num bebe morri, se bebe morri tomem! Mio morre filiz!

- Pense na sua família nos entes queridos, o senhor não tem vontade de viver com eles?

- Eles e qui faiz eu bebe todo dia. Bebenu pelo menos num passo raiva .

- Mas o senhor não quer viver?

- to viveno dotor, um dia de cada veiz e um detrás do outro.

Um silencio pacifico toma a sala, o medico escreve e da a receita,

- Passe na farmácia, e veja se o senhor consegue todos aqui mesmo no hospital. E pare com a bebida, é a única coisa que vai lhe manter vivo.

- É dotor, brigado. Mas acho que eu e a marvada vamu para juntinho um cum otro.

Isso que é realismo. Foi a conclusão do cronista.