DIÁRIO DE UMA VIAGEM – PARTE I

Pois é... Depois de esperar, ansiosamente, pela Semana Santa e, com isso, ir visitar os meus filhos, que moram em João Pessoa, eu nunca imaginei que fosse passar por tantas “aventuras” num período tão curto de tempo.

Para começar, adiei a partida da quarta-feira para a quinta-feira. Motivo: o noivo da minha filha só poderia ir comigo se fosse no dia seguinte ao dia que eu havia planejado. Contrariado, porém convicto de que se eu fosse, na quarta-feira, sem o referido mancebo, a minha filha me faria voltar para vir pegá-lo, eu, claro, optei por esperar pelo dia seguinte, pois não sou besta...

Quinta-feira, pela manhã. Acordei disposto a encarar os 472 quilômetros que separam Mossoró, no Rio Grande do Norte, de João Pessoa, na Paraíba. Além do distinto príncipe encantado, estavam indo comigo: a minha cônjuge, a minha mãe e uma sobrinha – filha de um irmão meu. Família unida jamais será vencida!

Depois de colocar, na mala do carro, as “coisinhas” para os “bichinhos” (mãe bota cada apelido nos filhos!), dirigi-me para casa da minha mãe. Lá, mais coisinhas para os netinhos (vale salientar que o netinho dela, de nome Pedro, tem um metro e oitenta sete de altura e a minha filha, mestranda em Comunicação Social, já passou dos vinte e cinco anos...) e a mala do carro “vendo tocha*” para poder fechar...

Tudo pronto, primeira parada: posto de combustível (eram 08h40min). Tanque cheio, saímos em direção à BR 304 com destino, primeiro, a Natal/RN. Viagem, por um lado, até certo ponto agradável, pois o tempo colaborava; por outro, o fluxo de veículos só aumentava à medida que nos distanciávamos da nossa cidade. Atenção redobrada, susto de cinco em cinco minutos, motoristas apressadinhos, cortando pela direita, pela esquerda, com faixa contínua, em aclive, em declive, com carros vindos em direção contrária; enfim, uma loucura!

Assim, entre sustos e freadas bruscas e, também, com uma boa dose de sangue frio, para não nos aborrecermos com os domingueiros de plantão, nós chegamos à metade do caminho entre Mossoró e Natal: cidade de Lajes. Lá, por sinal, é onde se encontra o Pico do Cabugi, ponto mais alto do Estado. A cidade faz por merecer o nome de Lajes. Ela está encravada no meio de verdadeiras serras de pedras.

Bem, a parada nesta cidade é obrigatória para mim, por um motivo muito simples: na loja de souvenirs do Posto Militão (o mais bem equipado e onde param noventa por cento das pessoas que trafegam na rodovia) encontram-se, à venda, os meus livros: Um Olhar Sobre o Cotidiano e A Flor e o Botão: som, ruído e brisa. Então, sempre quando eu vou em direção a Natal ou a João Pessoa, passo lá para saber se os livros que eu deixei, na última vez, já foram todos vendidos e se, em caso positivo, estão precisando de mais (e, claro, fazer a proprietária prestar contas da remessa deixada) e saber se algum leitor deixou alguma crítica com relação aos textos.

Desta vez, infelizmente, ainda restavam livros e não foi preciso uma nova remessa. Uma pena (para mim e para a dona da lojinha – já que, se não vendeu, não ganhou comissão)...

Após uma água e um cafezinho expresso (eram mais ou menos dez e meia da manhã), seguimos viagem. Até a cidade de Santa Maria, onde paramos para almoçar, apenas um susto básico: um carro de passeio tentou ultrapassar duas carretas e, como os veículos pesados eram compridos demais, foi necessário os carros, que vinham em sentido contrário, irem para o acostamento para que o “apressadinho” pudesse passar.

Hora do almoço. Era meio dia e meia. Dizem os entendidos, em comida de estrada, que a carne de sol nesta cidade é a melhor do Rio Grande do Norte. De fato, é muito saborosa. Comi mais do que devia. Mas, como era feriado e é sempre na segunda que eu começo o meu regime, não liguei muito...

Um esclarecimento: entre Mossoró e Natal, a operadora Oi não consegue conectar celulares.

Como todos já tinham comido a sobremesa (por sinal, deliciosa – doce de mamão com coco), pegamos a estrada. Uma chuva nos acompanhou neste trajeto. Até a cidade de Natal, sem atropelos maiores, apenas o fluxo cada vez maior de automóveis indo a busca de seus descansos.

Na entrada de Natal, o celular da minha esposa passou a apitar (acho isso incômodo, mas não inventaram ainda uma outra maneira de alertar o usuário de que tem mensagem recebida durante o período em que ele ficou “sem linha”). Em seguida, o meu também passou a apitar. E assim foi o do noivo da minha filha e, por fim, o celular da minha esposa passou a chamar. Automaticamente, baixei o volume do toca cd (estava ouvindo Amália Rodrigues), enquanto a minha esposa ouvia o que estavam dizendo a ela. Instintivamente, eu observei o semblante dela mudar. Diminui a velocidade do automóvel, no mesmo instante em que ela me pedia para eu parar no próximo posto de combustível.

Sem outro jeito, procurei uma saída na rodovia e me encaminhei para um posto à minha direita. Enquanto eu manobrava, ela retirou da bolsa um bloco de anotação e rabiscou alguma coisa nele e colocou no meu colo. Como estava chegando ao posto, deixei para lê-lo assim que parasse o carro. A minha experiência não me permitiu cometer essa contravenção de ler enquanto dirigia. Ainda bem!

Assim fiz. Parei o carro em frente ao restaurante do posto e li o que estava escrito: ladrões entraram na casa de sua mãe. Meu Deus! – de dia! Olhei para a minha esposa e fiquei sem saber o que fazer. Olhei, em seguida, pelo retrovisor e a minha mãe dormia juntamente com a minha sobrinha no banco de trás...

 
Continua...



* Vendo tocha: abarrotado de coisas, apertado de tantos volumes...




Obs. Pico do Cabugi/RN

 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 01/05/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2942164
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