Mensagem inquietante

Em certa viagem ao Nordeste brasileiro, Otaviano Mangabeira conheceu a cidade de Patos, localizada no interior, precisamente no alto sertão paraibano. Ele fora ali a serviço de uma construtora, cujo sócio majoritário era influente político, vinculado ao antigo PSD, partido de histórica participação na vida republicana.

Rogo ao leitor não comparar o antigo PSD à desastrosa agremiação instituída recentemente pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, hoje partidário de aloprados petistas, embora em passado recente tenha sido ridicularizado por um de seus membros, a atual senadora Marta Suplicy, estrela vermelha de luzes opacas. Quem dispuser de boa memória, não será difícil lembrar o que disse “Martacha” sobre a masculinidade do controvertido edil.

Volto ao assunto principal, para falar de Otaviano Mangabeira, rapaz competente que se destacou na hierarquia da empresa em que trabalhava. Como engenheiro civil de reconhecida competência, não lhe foi difícil o sucesso. Durante os meses vividos sob o forte calor das Espinharas, denominação dada àquela região sertaneja, o cearense Otaviano, nascido em Quixadá, berço da escritora Rachel de Queiroz, fez grandes e duradoras amizades.

Entre as pessoas de seu convívio social, o renomado engenheiro teve seu interesse despertado para a bela senhorinha Elizabeth, filha do prefeito local. Saída há poucos anos da adolescência, Bete, como lhe chamavam os íntimos, era excelente partido. A mocinha, bonita e educada por freiras carmelitas, também se encantou pelo jovem Mangabeira, de vinte e oito anos de idade. Ele, também, era um bom partido, achavam os pais da garota.

O tempo curto passado em Patos foi suficiente para transformar o rápido idílio em amor terno e delicado. O enamorado casal não hesitou em cumprir o que diz a Bíblia; ambos foram transformados “em uma só carne”. Casaram-se. Ela, fazendo jus ao nome monárquico, tornou-se rainha de um lar feliz e encantado pela presença do príncipe da engenharia civil, conhecido fora dos portões da cidade de Patos, na Paraíba. O nome profissional de “Sua Alteza” ultrapassou as fronteiras tupiniquins e alcançou renomados centros urbanos do exterior. O da “rainha Elizabeth” acompanhou o sucesso do marido.

Bete seguiu o exemplo do esposo e estudou bastante. Bacharelou-se em Direito. Seu escritório, localizado no centro da inquieta São Paulo, cidade para onde o casal transferiu residência com o passar dos anos, era bem conceituado. Sua carteira de clientes perdia em número e qualidade apenas para a dos filhos de desembargadores e juízes das altas Cortes da Justiça brasileira.

As longas jornadas de trabalho de Otaviano e de Bete eram recompensadas por merecidas férias, principalmente em praias do litoral nordestino. Não raro, porém, o casal trocava a tranquilidade da casa onde morava na agitada São Paulo pelas belas praias caribenhas.

Em merecido período de férias, resolveram esbaldar-se em aconchegantes praias da Riviera francesa, para onde iam regularmente descansar e divertir-se. Otaviano comprou as passagens e reservou os melhores hotéis da região. Pretendia comemorar com a estimada consorte os anos de feliz matrimônio, em Nice, na França, onde passaram a inesquecível lua de mel.

Infelizmente, Bete não pôde viajar com o marido no dia aprazado; inadiável audiência judicial estava marcada para a mesma data. Otaviano, embora triste, resolveu viajar sozinho; na movimentada cidade francesa, aguardaria a mulher de braços abertos e com o coração palpitante de forte ansiedade.

Depois de bem alojado em confortáveis instalações do hotel, Mangabeira sequer descansou o corpo da exaustiva viagem. Correu para o computador, decidido a enviar notícias por e-mail, para sua amada. A ansiedade, inimiga da paciência, fizera-o errar a grafia do endereço eletrônico, tão conhecido e repetidas vezes usado por ele em suas comunicações com Elizabeth.

...

O endereço eletrônico, digitado erroneamente, resultou aportando em outra caixa de mensagem. Foi recebido por uma senhora que acabara de voltar do enterro do marido. Esta, ao ler o conteúdo cibernético, caiu desmaiada. O filho da desditosa senhora, que a acompanhava de perto, acorreu em seu socorro. Custou-lhe fazê-la despertar. Quando conseguiu, a velhinha apontou para o vídeo do computador. No espaço branco e reluzente da telinha, letras em negrito expressavam a seguinte mensagem:

“Querida, fiz ótima viagem. Não te surpreendas em receber notícias minhas por e-mail. Aqui tem bons e velozes computadores! Aguardo tua chegada com ansiedade, amanhã. Estou louco para apertar-te em meus rígidos braços. Tua viagem será tão rápida quanto a minha. Traga roupas leves, pois aqui faz um calor infernal”.

Enquanto Bete ansiava por rever o marido, a pobre viúva não queria saber de nenhuma viagem. Não, como a que ela sabia ter feito o esposo.

– E para aquele lugar? Não! – perguntou-se e respondeu assustada.

“Doravante, serei mais virtuosa”, disse para si, após fazer o sinal da cruz.