Salve-se quem puder...

Salve-se quem puder...

Paulo e Eduardo eram amigos inseparáveis. Daqueles que confidenciavam tudo. Trabalhavam na mesma repartição e quando terminava o expediente, ainda tomavam uma gelada no bar do Pedrão. E caíam na conversa.

Por coincidência os dois estavam de namorada nova.

Paulo descrevia a sua pequena com muito entusiasmo. Cabelos castanhos e cacheados. Olhos azuis acinzentados. Um sorriso belíssimo. Corpo bem modelado. Uma fala rouca e meiga. Pele macia. Uma beleza indescritível.

Eduardo por sua vez, não tinha tantos detalhes de seu novo amor. Conhecera pela internet e além do nome, Altair, tinha apenas a sua foto no msn. Aparentava uma mulher manhosa e sensual. Tinha um ar ingênuo e doce. Imagem estática no quadrinho do messenger, não oferecia melhores detalhes.

O tempo passa rápido, um, dois meses de namoro. Ambos apaixonados. As conversas entre eles estavam mais esparsas porque as namoradas roubavam grande parte de seus tempo. Nem por isso a amizade entre eles diminuíra.

No mundo moderno tudo acontece depressa, até os bebês nascem de 8 meses para justificar as brincadeiras antes do cerimonial do casamento. Mas, Paulo e Ricardo estavam devagar, ainda não tinham consumado o ato de amor com suas namoradas.

Paulo, porque a Odete sua namoradinha, era uma garota difícil. Não deixava ele avançar o sinal. E não passavam das preliminares.

Eduardo por sua vez, não progrediu muito com Altair. Apesar de ter conseguido falar e vê-la melhor através da webcam, ainda não tinham tido um encontro presencial.

Namoro virtual não é visto com bons olhos. Por isso, Paulo sempre advertia o amigo, do perigo que estava correndo. Relatou alguns casos desagradáveis. Homem passando por mulher, uma foto de outra pessoa no msn pra fingir um modelo de beleza, mentiras contada através da net, em relação a idade, altura e beleza. Depois de tantas recomendações sobre o perigo do amor virtual, só mesmo um sentimento forte e verdadeiro para manter o romance Eduardo x Altair.

Nessa noite, após a conversa com o amigo, Eduardo custou a dormir com a cabeça cheia de indagações. Por que Altair não queria encontrá-lo pessoalmente? Como seria o cheiro de sua namorada? A pele... Tudo enfim... Estava sendo verdadeira em suas descrições?

Esta dúvida Paulo não tinha. Sua namorada era real. Porém, sexo nada. Nenhuma intimidade física, além de beijinhos e rápidas carícias.

Não sabia ele, porque Odete se esquivava da melhor parte do namoro. Os amassos, o rala e rola, a cópula.

Porém, uma câmara oculta tinha a resposta. Só ela sabia do outro lado de Odete. Ao adentrar na sua alcova, porta fechada a sete chaves, ela tirava seus lindos olhos azuis, seus dentes eram guardados cuidadosamente num copo com água, seus cabelos castanhos cacheados descansavam num porta peruca, o corpo modelado cedia lugar a quilos de gordura depois que o zíper do espartilho descia dente a dente. Foi-se a bela Odete.

Viu Paulo? Somos lesados de todo jeito, virtualmente e presencialmente...

Salve-se quem puder...

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 19/11/2006
Reeditado em 12/06/2020
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