Uma História Roubada
 
 
Sô Lalá é novo no Recanto, mas já deu para perceber que é um grande contador de casos. Homenageando sua mãe, escreveu Sabedoria Materna, onde conta uma história deliciosa. Eu a li e me encantei e também lamentei não tê-la ouvido ou lido quando criança. Certamente comporia com outras duas, o tripé da minha formação moral. Vou repeti-la aqui, bem resumidamente, quem quiser conhecê-la com detalhes vai ter que visitá-lo. Ele a ouviu da mãe sábia, educando sua escadinha através de bonitas histórias.

Comigo acontece assim: vou lendo ou ouvindo e criando imagens mentais. Histórias que se passam em pequenas cidades eu as levo para Arantina, a cidadezinha onde nasci. Por isso enquanto reconto a história que li, reconto a minha moda, como se tivesse se passado lá. E você que a lê também certamente vai imaginá-la em outro lugar. Portanto não espere que nossas histórias sejam iguaizinhas.

Em uma pequena cidade dessa Minas Gerais viviam dois tipos bem característicos: um homem muito corajoso e outro muito medroso. Enquanto todos vibravam com o corajoso, também mangavam do medroso. Um dia propuseram aos dois um desafio: teriam que ir, cada um na sua vez, até o cemitério que ficava lá no alto do morro. Acordo fechado, noite fechada, teve início a disputa. Para realizar a proeza precisavam acender em um túmulo, visível lá de baixo, uma a vela. Ele foi, acendeu a vela, todo mundo viu e ele voltou. Mas o medroso levou um tempão para chegar lá, os companheiros lá no centro da Praça já estavam se dispersando quando viram a vela acesa. Penso até que ficaram decepcionados   porque não iriam poder tirar nenhum sarro no medroso. Levara tempo, mas o homem chegara lá. Mas por que demorara tanto? É que da saída lá do centro da Praça até chegar ao cemitério ele teve que lutar com seus demônios pelo caminho. Quando voltou trazia no rosto toda a sua satisfação. Ao corajoso a prova nada custara, mas ele, o medroso, teve que vencer o próprio medo para cumprir o desafio. Portanto foi o grande vencedor. 
 
Como eu disse, se eu conhecesse essa história desde menina, ela faria parte do tripé responsável pela minha formação moral. E se conto isso tenho que contar também as histórias que formam os dois outros pés do tripé.
Um lenhador, vendo que a morte se aproximava, temeroso em deixar os filhos sem proteção, chamou-os e pediu-lhes que tentassem quebrar ao meio um feixe de lenha. É claro, nenhum deles conseguiu. Então o lenhador retirou um pau de lenha e deu para cada filho, pedindo-lhes que o partissem. É claro, todos conseguiram. Para mim que tive nove irmãos (agora tenho sete) foi uma sábia lição e é assim que vivo, sabendo que juntos somos fortes e separados bem fraquinhos.

A outra história é a daquela família em que o avô velhinho foi excluído das refeições familiares porque comia de forma inadequada. Na hora das refeições, serviam-lhe a comida em uma gamela e o colocavam para comer no terreiro. Um dia o pai pegou o filho menino talhando uma gamela no terreiro e perguntou-lhe: Para que é isso, meu filho? A resposta veio na lata: É para o Senhor comer quando estiver velhinho e for morar comigo.

São três belos exemplos morais: - a certeza de que antes de tudo precisamos vencer os nossos medos, a força da união e a lei de causa e conseqüência. Certamente ninguém vai duvidar que o melhor educador seja o Professor Exemplo.

Espero que Sô Lalá não fique zangado comigo por ter roubado a sua história. Roubei por que gostei, se não tivesse gostado não tinha roubado. E nem mesmo prometo não roubar outras. Bobeou e eu aproveito para recontar do meu jeito.