Amigos e Amigas

 

 

                  O tema amizade, pela sua importância, sempre    foi  muito explorado.

                 Quase todos os antigos falaram sobre o  amigo, sobre amizade. É um tema  recorrente e até hoje continuamos produzindo textos sobre amigos. Eu mesmo já falei esporadicamente alguma  coisa sobre as amizades.

             Hoje, gostaria de ser mais específico , falar do meu ponto de vista, portanto, bem    pessoal,  e, baseado na minha experiência , dizer o quanto é importante e benfazejo alguém ter um amigo de verdade.   Dizer das recompensas  da amizade.

            Logo no início da minha vida, minha  primeira amizade surgiu para mim aos oito  anos , nos bancos escolares, sem que eu percebesse que estava nascendo uma amizade para toda a vida, até a morte do amigo, no ano retrasado, quando o Sylvio Brock estava com 68 anos. Logo, foram 60 anos de ininterrupta amizade, sem nenhuma rusga sequer.

              A amizade não se escolhe,  ela acontece sem que façamos qualquer esforço para isso. Nem sabemos explicar porque ficamos amigos de verdade.  Quando nos damos conta,     se passaram cinco, dez anos de amizade diária. Só aí, depois desse tempão todo, é que exclamamos um para o outro: “somos amigos e nem desconfiávamos”. E mais, esse tipo de amizade não se interrompe, mesmo nos eventuais afastamentos físicos dos amigos. O que aconteceu comigo e o Sylvio, por  circunstâncias da vida.

           Essa é a amizade verdadeira, sem cálculos, sem interesses. Ela é gratuita. Fica fácil eu descrever para o leitor  o que é uma amizade,  sem precisar  apelar para a experiência dos outros, porque basta que eu relembre como nasceram   as minhas  amizades.  Sou afortunado, porque tive durante a vida três amizades verdadeiras.         Possivelmente, o fator afinidade deve ser a  melhor explicação  para unir duas pessoas. Sim, os opostos muitas vezes se atraem, mas a afinidade facilita muito a amizade.         

          A amizade só é autêntica  se não houver interesse material. Há interesse, sim,  interesse pela felicidade do outro. E os frutos surgem espontaneamente: saber ouvir as aflições do outro; tentar ajudar de qualquer maneira; explorar o mundo com quem temos afinidade, ter alegria em estar com o outro. Um amigo nunca se cansa de estar com o outro. São como irmãos siameses. É como diz o velho clichê, o amigo é como um sapato velho, sempre confortável. E  tem   mais: se o amigo tiver que dar um conselho, será sempre certeiro, idôneo, porque nos conhece por inteiro.

         Nos momentos difíceis da adolescência e depois na juventude foi com o amigo que tive apoio. Assim como na idade adulta, recordo-me bem, tive a alegria de retribuir, dando a  mão ao amigo,  por    duas ou três vezes.

            Além das confissões leigas que fazemos ao amigo, sem temor, porque já sabemos que seremos aceitos e compreendidos, há um outro fruto, bem lembrado por Francis Bacon: é o do amigo sobrevivente dar continuidade a uma eventual obra do amigo morto e até amparando, se necessário, seus familiares.

             Meu pai teve um amigo assim, verdadeiro, por toda a vida dele.

           E muitas das virtudes de meu pai, um quase franciscano, só pude apreciar  e tomar conhecimento através dos relatos do Armando, o grande amigo de meu saudoso pai.

         O amigo também  cumpre essa missão:  seria horroroso o autoelogio,  de péssimo  gosto. O amigo realiza também essa função. Cabe a ele ressaltar as virtudes do amigo.

 

Gdantas