Como esquecer a sua genialidade e o seu sofrimento!

" A maior tragédia da humanidade vai além das guerras! A maior tragédia é esquecer com imensa facilidade, daqueles que sobressairam a mesmice e a vulgaridade da sua raça !"

Ana Marly de Oliveira Jacobino

José de Assis Valente (Santo Amaro, 19 de março de 1911 — Rio de Janeiro, 6 de março de 1958) ** as duas datas são repletas de controversias.Era filho de José de Assis Valente e D. Maria Esteves Valente. Segundo relatava, tinha sido roubado aos pais, ainda pequeno, sendo depois entregue a uma família Santoamarense, que lhe deu educação, ao tempo em que o iniciou no trabalho, algo extenuante.

Já aos dez anos de idade revelava-se admirador de grandes poetas, como Castro Alves e Guerra Junqueiro, cujos versos declamava, encantando aos que ouviam. Por essa idade segue com um circo mambembe, até que finalmente radicou-se em Salvador, onde faz-se aluno do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, aprendendo também a confeccionar dentaduras.Na foto, Assis Valente à esquerda de Carmen Miranda e Dorival Caymmi à direita. (In Google)

Muitas de suas composições alcançam o sucesso, nas vozes de grandes intérpretes da época, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Altamiro Carrilho e muitos outros. Sua admiração por Carmem fê-lo até procurar aprender a tocar, pensando que o professor fosse pai adotivo da cantora - o que não procedia. A paixão não impediu que para ela compusesse várias canções, sempre presentes em seus discos.

Graças a uma dívida cobrada por Elvira Pagã, que lhe cantara alguns sucessos, junto com a irmã, tenta o suicídio pela primeira vez, cortando os pulsos.

Casou-se, em 23 de dezembro de 1939, com Nadyli da Silva Santos. Em 1941 (13 de maio) havia tentado o suicídio mais uma vez, saltando do Corcovado – tentativa frustrada por haver a queda sido amortecida pelas árvores.

Em 1942 nasce sua única filha, Nara Nadyli, e separa-se da esposa.

É o autor do clássico "Boas Festas", que se tornou uma espécie de hino do Natal brasileiro; contudo, é uma música triste, que não celebra o Natal, contendo uma crítica ao mito do Papai Noel, com versos inspirados, como "eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel".

Suas maravilhosas composições trazem um conteúdo poético, que buscam emocionar, algumas com um teor mais reflexivo. Alguns exemplos:

"Já faz tempo que eu pedi

Mas o meu Papai Noel não vem

Com certeza já morreu

Ou então felicidade

É brinquedo que não tem" ("Boas Festas")

Ouça esta bela composição natalina e muito mais clicando em:

Não perca este vídeo --AO CHIADO BRASILEIRO-ASSIS VALENTE

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Outra estrofe de outra letra de muito sucesso:

"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor

Eu fui à Penha e pedi à padroeira para me ajudar

Salve o Morro do Vintém, pendura a saia que eu quero ver

Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar" ("Brasil Pandeiro").

Não perca este vídeo -- Brasil Pandeiro - Assis Valente

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Morte trágica

Uma das maiores tristezas da sua vida foi a de Carmem Miranda (a sua intérprete maior) não ter gravado "Brasil Pandeiro". Carmem alegou que seria muito incoerente ela gravar uma música que falava da sua vida e pediu gentilmente para Assis recomendar a gravação a outra interprete. Foi um choque para ele que a amava muito. A depressão foi tomando conta da sua alma juntamente com as dívidas.

Desesperado com as dívidas, Assis Valente vai ao escritório de direitos autorais, na esperança de conseguir dinheiro. Ali só consegue um calmante. Telefona aos empregados, instruindo-os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando sua decisão.

Sentando-se num banco de rua, ingere formicida, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ary Barroso que lho pagasse dois aluguéis em atraso. Morria às seis horas da tarde. No bilhete, o último "verso":

"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."

Dicionário Cravo Albin de MPB

"Brasil Pandeiro - Assis Valente", obra da Ed. Irmãos Vitale (Coleção "Canta um Conto", 2004, ISBN 8574071730) traz um pouco da obra do grande compositor.