A Vida pede passagem


               
Somos ensinados, desde a mais tenra idade, a fechar portas. "Feche a porta ao sair". "Ao sair, bata a porta".  "Não se esqueça de fechar as portas". "Será que fechei bem as portas ao sair?" Estas são expressões que vamos ouvindo/repetindo ao longo de nossa caminhada.

               Somos sempre chamados a fechar as portas. Seja na infância, adolescência ou maturidade, há sempre a preocupação com o fechamento das portas. Assim como em boca fechada não entra mosca, em porta fechada, acredita-se, não entram intrusos. 

               Fechando as portas evitamos a visita indesejada, a presença invasora. Fechar é, também, uma forma de evitar a saída. Talvez por isso nos preocupemos tanto em fechar as portas... 

               Se devemos cuidar para que as portas de nossas residências estejam sempre fechadas, devemos redobrar o cuidado quando se trata das portas internas. 

               Precisamos apenas lembrar que não adianta fechar as portas da alma na tentativa de reter aquilo que acreditamos nos pertencer, pois, nada nos pertence, mas aquilo que conquistamos continuará conosco, mesmo que as portas estejam abertas. 


               Se fecharmos a cortina do olhar não perceberemos a beleza da fresta de luz  que entra pela porta aberta. De ouvidos fechados não sentimos os sons que invadem nossas vidas através dos ruídos que, muitas vezes, nos incomodam. De lábios cerrados não nos permitimos um sorriso para saudar o dia, que a despeito das portas fechadas, brilha lá fora.

               Abrir as portas interiores é, sem dúvida, uma atitude de coragem. É preciso confiança para baixar a guarda. Não é fácil deixar a porta aberta e correr todos os riscos agregados a esta atitude.

               A porta aberta simboliza um convite. Um risco. Mas, sem correr riscos conseguimos muito pouco. Quase nada. Sem os riscos/perigos implícitos na liberdade a vida pode parecer uma clausura. Colocar cadeados nas portas pode nos dar sensação de segurança, mas nos priva da beleza que fica lá fora. 

               É preciso abrir as portas, soltar as correntes, quebrar os cadeados do medo e deixar o vento entrar.  É necessário criar coragem e sentar na varanda para tecer sonhos, como quem borda versos no tecido impermeável do tempo, deixar escorrer a poesia presa nos varais do olhar, que busca vida além das janelas e portas, fechadas ou abertas...




Este texto faz parte do Exercício Criativo Porta Aberta. Saiba mais, conheça outros textos:  http://encantodasletras.50webs.com/portaaberta.htm


Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 16/05/2011
Reeditado em 13/08/2011
Código do texto: T2973164
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