Mistério da mulher

Mistério da mulher

Teimo em não compreender a razão dos meus três únicos leitores me acharem implicante apenas porque cismo matutando. Sou mineiro, uai!

Na minha infância ficava pasmo observando uma mulher arrumar a costura da meia no meio da rua. Não que eu seja implicante, mas não vejo mais mulheres usando tal fetiche. Hoje as observo (e me contento) ajeitando a bolsa no ombro, tomando o cuidado para não estragar as unhas. Caramba! É incrível como pequenos gestos femininos se transformam em verdadeiros poemas.

Observe a mulher secando os cabelos, ora desnudando a nuca e cobrindo o rosto. Parece uma árvore dançando com um vendaval de verão, dobrando seus galhos e regendo uma sinfonia.

Homem que sou não sei a razão que leva o homem a merecer um pouco de atenção de uma mulher. E se razão há deve ser mistério guardado por ela, generosa e apiedada que é por todos nós. O gesto feminino é a síntese do que é belo; tão intensamente se irradia que o homem que a acompanha no restaurante se revela uma caricatura do que existe de mais grotesco na natureza, embora humanizado pela inveja dos outros homens. Ah! As mãos! A mão que se lança para pegar a taça, antes se abre em pétalas digitais e suavemente se amálgama ao cristal, em que até o vidro barato se transforma, para depois leva-lo aos lábios e beber a água em pequenos goles macios. E ali fica a taça exibindo a marca do seu batom como uma assinatura numa obra de arte.

À mulher tudo é permitido. Até mesmo ser vestida por costureiros afetados em suas qualidades naturais e, mais que isso, se achando os únicos capazes de enfeitá-las com seus panos e brocados. Sabem os panos o quanto ordinárias são as mãos dos homens que os cortam, mas qualquer sacrifício justifica a beleza que a mulher confere à mais humilde chita.

Tivesse o homem conhecimento do monumental mistério da mulher, então ela se daria ao luxo de andar completamente nua; pois que a mulher não teme a beleza que nasce em heras epidérmicas, mas, sim, a luxúria ordinária que os toscos brotam em seus falos de pouca ou nenhuma serventia (exceção feita ao autor desta matutagem).

Gostaria de escrever sobre a beleza que as mulheres provocam quando escovam seus cabelos, ou retocam a maquiagem, ou quando exibem os pés em sandálias ou os ocultam em botas de pelica; da beleza que elas nos oferecem quando cruzam nossos caminhos. Mas isso tudo, tenho certeza, o meu raro leitor sabe e gosta.

Quer saber? Melhor sair por aí e admirá-las na rua, no campo, na fazenda...