Entendo...
 
Entendo...

Pois foi assim, ela de lá e eu de cá, conversando...
Mesmo antes que eu acabasse de falar ela já estava dizendo: entendo.
Ela entendia tudo, mas não deve ter ouvido uma palavra que eu dizia.
Eu bem que expliquei, pela enésima vez tudo o que tinha acontecido: entendo, ela disse.
E depois de tanto entendimento ela pediu cinco dias úteis para resolver o problema. Mas hoje é o quinto dia útil, exclamei, desanimada. Entendo, ela disse, mas hoje é o primeiro, cinco dias a partir de hoje. Apesar de tudo ela tem nome e me disse. A voz robótica do outro lado da linha que falava comigo em nome do Banco. Vim da parte do Banco, ela começou e quero lhe fazer algumas perguntas. E eu as respondi todas, com a maior paciência e ela entendia tudo. Pois era o que dizia no fim de cada resposta: Entendo. Mas eu continuo sem entender nada. No final da história ela disse que eu tinha feito tudo errado. Problemas de Pessoas Jurídicas devem ser resolvidos na Agência, ela disse: nunca pelo O800. Eu também acho, respondi. Mas lá me mandaram ligar para cá. Entendo, mas não deviam, ela disse. Todos serão chamados a atenção, pelo que fizeram.

Uma história bem complicada. Um banco, uma agência, um cliente pé de chinelo .Um site na internet onde o cliente diariamente consulta os  lançamentos porque é e através deles que o cliente faz seus depósitos. Só isso e nada mais. Mas isso é pouco para o Banco que  coloca ali um valor razoável para o cliente gastar como empréstimo – só que o cliente não gasta e com isso não dá lucro ao banco.E aí um belo dia, ao acessar a conta o cliente tem uma surpresa: senha expirada. Ele não consegue acessar a conta e então vai a Agência onde lhe dão um 0800 para ligar para recuperar a senha. O cliente liga, mas nada consegue. A solução virá de outro setor, amanhã chamaremos você, diz uma voz robótica. No dia seguinte outra voz robótica chama e resolve o problema. Então o cliente felizinho, abre o site e lá depara com o rombo: dezenove mil e novecentos reais saiu de sua conta, exatamente dessa vantagem que o Banco  lhe deu: o dinheiro para tomar emprestado, se precisasse.

Assim está sendo minha história kafkiana. Um dinheiro que eu não tinha sumiu de minha conta. E ela entende. Mas o Banco, não pode simplesmente devolver, tem que investigar e enquanto isso o débito continua na conta. E  eu fiz tudo errado simplesmente porque cumpri ordens. Entendo, ela disse, mas a queixa está no seu nome, tinha que ser no nome da Firma. Mas eu fiz a queixa no nome da firma, respondi a todas as perguntas que fizeram: Tinha que ser por escrito, ela disse. Com todos os seus sócios assinando. Mas só eu respondo pela firma, respondi. Entendo, ela disse, mas tem que seguir as regras. E a regra é essa...