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"Na semana passada, minha mulher comprou um pote de geleia de mirtilo, com o seguinte selo: “Geleia de blueberry”. Num acesso de hipercorreção, risquei a palavra “blueberry” e escrevi por cima “mirtilo”, não sem antes passar um “branquinho” sobre o rótulo. “Você está louco?”, me disse Miriam ao descobrir o trote. “É assim que nascem os serial killers!”, exagerou. Respondi no meu espírito habitual: “Brincadeira sem graça. E por que não ‘assassinos seriais’?”..."

                      Luís Antonio Giron


Perdão, Camões!


Neste mundo pós-moderno, onde o boom tecnológico na comunicação, em míseros segundos, traz os mais longínquos recantos do universo para a intimidade de nossos lares,  nem a linguística está livre de influências. Isto é fato.
Camões, cada vez mais, revirar-se-á no túmulo. E  Giron ainda vai saborear muita geleia de blueberry, muito hot-dog com ou sem katchup e outras coisinhas mais.

 
Refiro-me ao pouco conhecido mirtilo - o  mais popular blueberry - e à crônica do brilhante Luís Antonio Giron, editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, um Policarpo Quaresma de nossos dias...
Giron exaspera-se com a preguiça, a assumida ignorância dos usuários do português no Brasil e o disseminado uso de estrangeirismos e derivados no jargão jornalístico.

 
Oh, my god!  Os puristas que me perdoem, caminhamos para a linguagem universal. Quem sabe, numa visão poética, começará pela linguagem a união entre os povos? Mas poesia não é o que pretendo neste sítio.
Neste sítio... Devo escrever site? Ou saite? Sítio?  Qual termo causa maior estranheza? Bem, na dúvida, reticências e considerações...
 
Creio que devemos falar e escrever, antes de tudo, com a preocupação de sermos bem entendidos. Leio maravilhada um texto de conteúdo inteligente, coloquial, mesmo que repleto de estrangeirismos, mas não há texto insosso que me seduza, por mais bem escrito que seja. Julgo o conteúdo muito mais importante que a forma, portanto prefiro um texto infestado de estrangeirismo e derivados,  a um amontoado sem graça, de palavras corretamente empregadas. A linguagem é uma forma de expressão dinâmica e as mais variadas influências, estrangeiras ou não, são irreversíveis.
 
Ora, nem tudo está perdido,  este pode ser um caminho sem volta, mas ainda assim, é uma via de mão dupla.  A intraduzível  saudade  é universal. É a última flor do Lácio inculta e bela invadindo outras culturas.

Tenho outras preocupações. Um serial killer machuca mais a sociedade do que a língua.  Na realidade, preocupa-me muito mais a importação do exemplo, vide o recente episódio em Realengo/RJ, que propriamente a adoção do termo estrangeiro.

Bem-vindos os estrangeirismos que dão notoriedade a coisas antigas.
O já consagrado termo bullying, parece-me  muito nobre, já que finalmente atribuímos a merecida importância e o necessário combate às agressões que sempre existiram.

Creio que a comunicação é um grande desafio, é muito mais do que utilizar a língua mãe corretamente.
Como sempre, o sucesso está no equilíbrio, nem tanto, nem tão pouco. Esqueçamos os exageros.
 
Perdão, Camões! O “Oh, my god”, sem dúvida, foi um exagero.
 
 

Tânia Alvariz
Enviado por Tânia Alvariz em 18/05/2011
Reeditado em 18/05/2011
Código do texto: T2977947
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