Cozinhando
 
            Quem já se aventurou nas montanhas altas da Serra dos Órgãos, sabe que alguns conhecimentos indispensáveis são necessários.
            Ninguém se mete na montanha sem utensílios indispensáveis, a começar por uma excelente faca com bainha, e de comprimento grande, vinte e cinco centímetros, por exemplo. Outra peça que não pode faltar é a lanterna, com pilhas sobressalentes. E hoje, o telefone celular, que nem sempre tem conexão, mas é de utilidade grande.
            Agasalhos próprios, como calça de veludo ou lã forte, casaco pesado, meias e gorro de tecido que esquente e o indispensável saco de dormir.
            Caminhadas longas e íngremes cansam. Cansam e dão fome! Aí não vale o improviso. A famosa barra de chocolate e sua companheira, de cereais, não botam montanhista em pé. 
            Acampamento armado, vala bem cavada onde são colocados gravetos e pedaços de árvore que não esteja molhada ou úmida, garantem o fogão, o calor e o espanta animais indesejáveis, cobra, por exemplo.
            E a comida? Não é difícil. Uma sopa de aveia, alguns sanduiches de ovo cozido com linguiça e queijo garantem o almoço e o jantar. Com um senão. Gordurosos demais podem trazer problemas delicados e nada interessantes. Conheço uma solução infalível. Vi um velho montanhista preparando sua refeição calma e firme num abrigo da Pedra do Sino, em Teresópolis. Colocou bastante água numa panela grande, do abrigo, uma laranja com casca e bem lavada, feijão, toucinho, e muita linguiça.
            Perguntamos a Paraguai, era o seu apelido, que doideira era aquela. Ele já havia feito uma quantidade bastante exagerada, e pensamos que iria guardar para comer durante a noite e no dia seguinte. Ele foi direto: “logo vocês vão ver minha feijoada sem gordura.”
            Na panela de pressão, cozinha rápido. Na montanha, onde se tem relógio só para anotar quanto tempo se gasta para locomover de um lugar para outro, a panela vai ao calor de brasas às oito da manhã, se você está acampado. Fica o tempo que for necessário para cozinhar lá o que seja.
            Não há pressa, nestes lugares. Um pequeno passeio pelos arredores, bebendo água saindo da pedra ferida, limpa, cristalina e deliciosa, sempre é bem-vinda. Faz bem ao organismo e à alma.
            Feijão do conhecido guia de montanhas Paraguai pronto, fomos convidados para o almoço. O acompanhamento era só farofa, mais nada.
            Levamos um susto! Nem um pouco de gosto de laranja e a “feijoada” do Paraguai estava completamente sem gordura, a despeito da quantidade de linguiças que ele colocou. Ele pegou a laranja, inteira. Cortou. Dentro, uma espécie de caldo denso, meio escuro. Foi quando ele explicou que o hábito é conhecido entre os índios paraguaios. A laranja ‘suga’ toda a gordura possível, e permite uma comida muito saudável.
            Já fiz esta experiência em casa, usando só a linquiça.  Ficou sequinha, e foi literalmente devorada, frita, acompanhando umas cervejas no verão. 
            Na panela da fritura, nem uma gota de óleo. Duvida? Experimente!  
Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 19/05/2011
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T2980017
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