FIM DO MUNDO OU O JUÍZO FINAL

Se, porventura, depois das 18h de hoje, 21 de maio, ano da graça de 2011, alguém me conseguir ler estas linhas, então é por conta de que o mundo não acabou. Do contrário, se ele se acabar, paciência! Assim não haverá mais internet nem redes sociais; não existirá mais patifaria de politicagem, nada mais haverá sobre a face da Terra.

Não é deboche, não; falo sério. Conforme reza a profecia de um pastor norte-americano, um fulano de tal dos anzóis, de nome Harold Camping, engenheiro civil aposentado de 89 anos, hoje será o dia do Juízo Final. E a predição do ianque é feita com base em cálculos numéricos que ele efetuou, como em manipulação de mágica, tudo em cima da leitura da Bíblia. Visionário ou profeta, o sujeito é de Ookland, na Califórnia, o fundador de uma seita de teor protestante, a tal Family Radio Worldwide.

Em algumas cidades dos EUA, pelo que leio e escuto, associações cristãs e da sociedade civil organizam festas e ‘shows’ musicais para comemorar, após as 18h, caso a notícia que ganhou o mundo não passe de uma “lorota boa”. Por mim, não acredito; mas, se, como de outras vezes, o caso não passar de uma deslavada peta, aí também vou me programar internamente e ‘bebemorar’ pela continuidade do Planeta Terra.

Há quem apregoe a segunda vinda de Cristo, haja vista o tal Camping; outros, no entanto, levam a conversa na flauta. Papo para fazer boi dormir. Pode ser vero, só não creio é que tal importante acontecimento possa vir assim, grátis e no atacado, pela boca de um comedorzinho de feijão e rapadura. Sei lá, são tantas as lorotas que já se espalharam por aí!

Ainda menino, em Fortaleza, li num jornal que, com dia e hora aprazados, um disco voador iria pousar em pleno centro da cidade. Até o local era assinalado, o topo do finado Lord Hotel, edifício atualmente em demolição, espaço onde se amoitará uma estação do nosso metrô de mil e uma noites árabes. Esta, talvez, seja a obra pública mais emperrada do globo terrestre. Justiça seja feita à lengalenga da obra que se arrasta há décadas, aqui, sob as nossas ventas: geringonça muito apropriada pra ir parar no Livro dos Recordes.

Uma vez, em sonho, assisti ao fim do mundo. Minto não, tudo vero. Era um cinzeiro desgraçado, após o pipoco, um estouro tremendo, e a cinza pelos ares. E não é que eu saía são e salvo? Pois foi. Mas sonho é sonho, aquilo pode ter sido o prelúdio desse Juízo Final, de hoje, aí propalado pelas bocas da imprensa e papéis de jornais.

Serei breve, neste espaço, que até o Facebook já pôs a notícia da coisa nos eitos do mundo. Coisas assim, novidadeiras e estapafúrdias, com certeza, tornam-se um prato cheio para a exploração da boataria. Em boataria, mercê do meu ceticismo de nascença, não creio nem totalmente descreio; muito antes, com a fé de Deus, pelo contrário. E já estou indo ali, à geladeira, botar umas cervinhas para ficarem de quebrar os dentes.

Caso possa, e não haja mesmo fim do mundo nenhum, ou juízo final, então vou melar o bico, darei parabéns às minhas lindas cadelinhas ‘poodles’ e tomarei o maior porco em comemoração à perenidade deste mundo velho de guerra. Que assim seja feito, amém, em nome da Comunidade das Nações, incluso mesmo o reino do imperialismo ianque, lá donde nos inventam invasões à horta alheia e a tal tremenda potoca do reverendo-pastor.

Estou esperançoso de que, como naquela cena da vez do sonho, sairei são e salvo, outra vez. E entre vivos e mortos, todos, sem exceção, possamos todos ir à vitória da vida, todo mundo vivinho da silva. Senão, nada mais a fazer. Tenhamos paciência e vamos todos festejar a nossa morada comum, lá pelas infinitas escarpas da nova Mansão Celestial.

Fort., 21/05/2011.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 21/05/2011
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