UM TEXTO COM SABOR

Os jovens sempre nos aprontam surpresas. As mais diversas e inusitadas. As faixas etárias diferentes, se muito distantes podem até às vezes serem conflitantes. Mas isto depende de hora e lugar. Pode ocorrer que o momento importante para uma manifestação de apreço, de sentimento, seja tão pequeno, mas, ao mesmo tempo, tornar-se muito grande. Quando não é notado pela pessoa alvo, o momento torna-se tão efêmero que mata a sensação de alegria em sua origem. Mas, quando o alvo é atingido e manifesta uma reação de recepção prazerosa,o momento torna-se infinitamente duradouro. Pois neste caso, as duas partes desfrutam da comunhão de sentimentos de prazer, complementando uma ocasião de alegria de viver. Isto é benfazejo a qualquer pessoa, em qualquer faixa etária. E não importa, se está ocorrendo entre viventes nascidos na mesma década ou em décadas longínquas.

Amanda, minha sobrinha neta, certa vez comentou comigo uma crônica que escrevi, um dia, e que se intitula “Serenata de Valsa.” O texto conta um “mico” que paguei quando fui comprar bombons. É que, ao chegar numa “bombonniere”, em uma tarde de primavera na qual eu estava cheio de amor e procurava, para presentear, uma caixa de “Serenata de Valsa”, fui gentilmente advertido pela atendente balconista, de que tal chocolate ela não conhecia. Ela sugeriu a possibilidade de não existir o tal que era o motivo de minha pedida. Como eu insistisse no que procurava, a moça lamentou não poder atender minha solicitação. Agradeci e sai. Na rua, dei-me conta de que existia sim, o Serena de Amor e o Sonho de Valsa, portanto, eu havia criado na memória um novo produto, que ainda não tinha chegado ao mercado do chocolate. Realmente, pagara um “mico”.

Amanda leu a crônica e sobre ela produziu um texto em sala de aula. Meu livro, “A folha e a Lágrima,” onde a crônica está, foi levado por ela para uma aula de Língua Portuguesa. Quando ela me falou sobre este fato, fiquei muito contente. Estava ali uma leitora do tio-avô, comentando com o próprio o seu texto. Isto é gratificante para qualquer autor, muito mais neste caso, com o santo de casa fazendo o milagre. É muito mais gostoso.

Comemorava-se a Páscoa e eu estava envolvido em assar um churrasco em nossa casa de praia no balneário Cassino. Reunião de família. Muita gente. Muito barulho. Falas. Risos. Uma alegria que quando nos reunimos não medimos dela o tamanho. Somente a deixamos fluir. Em dado momento, Amanda, com aquele seu lindo sorriso e uma alegria que jorrava de seus belos olhos, foi ter comigo, frente ao calor da churrasqueira. Abraçou-me dizendo: “aqui está um Serenata de Valsa.” Foi um belo momento. Tornei-o duradouro por tempo indeterminado. Ela havia feito uma montagem na embalagem de um “Serenata de Amor”, valendo-se de outra de “Sonho de Valsa”, transformando-a em “Serenata de Valsa”. Foi um lindo presente que ganhei de Páscoa. Ao comer o bombom, senti um sabor indescritível. Ao chocolate estava acrescido um gosto de sentimentos misturados, pois muito mais do que idealizar a embalagem, me atingiu em cheio o ato que a levou a tal preparo. Me senti agraciado de um sentimento tão puro, firmado por aquele abraço, que captei os batimentos daquele jovem coração a me dizer, sinceramente, o quanto havia de felicidade naquele momento.

Interessante, o texto daquela crônica, para mim, terá sempre o sabor indescritível do bombom que ganhei de Amanda.

Marcos Costa Filho
Enviado por Marcos Costa Filho em 21/05/2011
Código do texto: T2984838