Divagando
Nunca poderia prever ontem o que sou hoje.
Meu ser hoje é tomado por um espírito de mudança impensável antes.
Não há vitórias, progresso ou evolução. É um jogo de perdas e ganhos, efeitos e conseqüências. Como é de se esperar da vida.
Meu trágico ser perdido no espaço se redescobrindo na harmoniosa chatice da passividade de agüentar os dias, as horas, os minutos.
Como mudei! Como me transformei!
O espelho não é mais o mesmo.
Meus pensamentos não são os mesmo.
Após a fase de transição, vem a reflexão: “O que sou?”
Pensando nisso, imaginei que tudo isso que ocorreu é fruto da minha extrema qualidade de nunca ser eu mesmo. Mais uma projeção de um novo “eu”. Agora levado a realidade.
Num espaço tão curto de tempo consegui ser diversas pessoas.
Fui de tudo: mentiroso e sincero, romântico e apático, bonito e feio; malicioso muitas vezes, bondoso em outras;
Honesto, claro, desonesto, sempre;
Manipulador, como era de se esperar, ingênuo, como conseqüência;
Desrespeitoso, mas tranqüilo, sereno e flexível de outro;
Agressivo! Destruidor! Impaciente! Mirabolante! Explosivo! ... medroso grande parte das vezes;
Encantado, ouvindo músicas tocarem meus ouvidos e pássaros cantando, porém, sob trevas no encanto, ouvindo em torno trovões e relâmpagos, sempre esperando o pior ou sempre fazendo para que tudo fique pior.
Amando e odiando. No passado aquele platonismo sobre a vida e meus amores, hoje frio e realista.
Ai, como a vida nos prega peças. Como o tempo nos engana. Tudo vai passando, e tudo que se passa imprime sua marca; a experiência de viver é mais que livros bem lidos e intelectuais nos dizendo como viver ou o que é a vida.
Viver é tão singular como nossa própria personalidade. É um desafio fácil para ser complicado.
Não posso dizer que é bom. Que viver é uma experiência fantástica e adorável. É um mero cumprimento de metas e deveres, um jogo bobo e infantil de relações, algo chato e com sentidos banais.
Aprendi algumas coisas. Talvez tenha entendido que o amor não é fruto de ilusões e fantasias, não é um filme de 2 horas; que não há conhecimento sobre o amor que vem de fora. O amor é muito bobo que pode ser superado. Não deveria existir essa palavra amor, deveria existir um sublinhado para que todos possam preencher com a definição que quiser. Cada um que se entenda. Só assim para acabar com esse universo insano e imbecil de pessoas entorpecidas pelas mentiras e doentes pelas desilusões.
São muitos futuros esperados para caber num espaço linear de tempo.
Tempos tão brandos. Amigos passageiros.
A cada minuto identificando o que fazer.
O dilema entre meu direito e minha ética.
Achando que tenho poderes de transcender os limites da realidade.
Recompondo minha alma permanentemente.
Oscilando entre o máximo do meu ego e o desastre da minha espontaneidade.
Um ponto aqui, outro ali. Muitas falhas. Arrependimentos. Saudades.
Um pouco velho para escrever coisas novas.
Um escritor bobo.