O segundo sábio




Gostei   de pesquisar sobre os sete sábios da Grécia Antiga. Talvez por causa de meu nome sempre me senti ligada a esse período da História da Humanidade. E talvez tenha sido esse também o fator que motivou a escolha de minha profissão básica: Professora de História.
 
Mas já no segundo pesquisado, a grande decepção: como pode um tirano cruel ser considerado um sábio? Pois foi isso que Periandro de Corinto foi, um tirano cruel, apesar de também ter sido um eficiente administrador. Só para dar uma amostra: em um acesso de ciúmes matou a esposa, Melissa. Quando viu a sandice que tinha feito, fez outra maior: manteve relações sexuais com o cadáver. Quando mataram, na cidade de Corcira, um de seus filhos, mandou seqüestrar 300 dos filhos homens das famílias mais importantes da cidade, castrou-os e escravizou-os dando-os de presente como eunucos. Bastava que suspeitasse de alguém como uma ameaça para mandar matar. Homem extremamente inteligente, mas a inteligência não faz de ninguém um sábio, pois a sabedoria consiste menos em ter conhecimentos e dizer frases de efeito e mais em viver de maneira digna e favorecer que os outros vivam também. Suponho que hoje ele seria considerado um caso clínico digno de estudos, uma personalidade bipolar.
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A origem da crueldade de Periandro, além do exemplo paterno, é relatada nessa pequena história: conta-se que certa vez enviou a Mileto um mensageiro para conversar com o tirano dessa cidade, Trasíbulo e se aconselhar sobre a melhor maneira de governar. Trasíbulo levou o mensageiro para um campo cultivado com trigo e a medida que conversava com ele sobre assuntos variados ia cortando todas as espigas que ultrapassassem as outras no tamanho. No final do passeio ele havia destruído quase todo o campo, eliminando o que havia ali de melhor. Ao voltar o mensageiro narrou o acontecido afirmando que Trasíbulo não falara nada sobre a pergunta que lhe fizera. Mas Periandro entendeu completamente a mensagem, afinal não era ele um sábio? A partir daí passou a eliminar todos aqueles que se destacassem e sobressaiam na cidade e pudessem ameaçá-lo.

Na outra  extremidade de sua polarização estavam as suas qualidades positivas-uma delas foi o desenvolvimento cultural da cidade. Criou ali um Centro Cultural e se cercou de artistas de vários segmentos, como arquitetura, desenho e poesia.

Deixou também algumas máximas que podem ou não ser consideradas sábias e que provavelmente nortearam sua vida. Algumas eu não entendi e até já esqueci mas me lembro que ele era adepto de guardar os segredos que conhecia, esconder os desgostos para não alegrar os inimigos, transgredir os maus juramentos, ser constante em relação aos amigos, independente de seu estado de espírito. Achava o repouso agradável e a temeridade perigosa. Considerava o lucro desonesto uma calúnia contra o espírito. Aconselhava moderação na abundância e prudência na adversidade e outras coisinhas que não me convenceram de forma nenhuma de sua sabedoria.

Mas o que gostei mesmo nessa história foi de ter me lembrado que havia em Arantina, onde nasci, um homem que se chamava Trasíbulo (Trasibo) e que tinha um irmão chamado Temístocles (Temisto). Esses nomes sempre me encucaram porque denotavam que os pais deles tinham um certo conhecimento da História Antiga, embora eu achasse improvável. Também nunca entendi porque meu avô se chamava Lybnitz.