Baiano burro nasce morto

A cidade de Prado fica situada no extremo sul do estado da Bahia. O município está encrustado na Costa das Baleias, uma das mais belas áreas de lazer e turismo das muitas existentes no Nordeste brasileiro.

A infraestrutura turística do município oferece ao visitante bons hotéis e confortáveis pousadas, indispensáveis ao descanso das jornadas recreativas, desfrutadas nos 84 quilômetros de litoral. O balneário de Cumuruxatiba, a praia de Corumbau e a queda d´água do Tororão são as principais atrações.

O mar revolto, com suas águas verde-esmeralda, faz a festa dos aficionados do surf, esporte aquático que empolga as multidões jovens. Surfar nas ondas do mar daquele agradável rincão é um raro prazer.

A cidade dispõe, ainda, de acolhedores habitantes, que se confraternizam com o turista na praça principal, cujo leito da rua é calçado de paralelepípedo. As barraquinhas armadas naquele logradouro oferecem variados produtos artesanais.

Pode-se dizer, também, que, como polo gastronômico, é de dar água na boca. A comida baiana provoca essa sensação de prazer, propiciado pelo paladar. A pimenta usada como condimento chega a queimar os beiços da gente. Mas, agrada pelo sabor folclórico difundido mundo afora.

Historicamente, o turista sai dali sabendo que o município foi o primeiro contato da esquadra de Pedro Álvares Cabral com os nativos tupiniquins, na foz do rio Cahy, antes da chegada do navegador português a Porto Seguro.

Foi nesse aprazível recanto que nasceu Fernando de Ifá, “pai de santo” de renomado terreiro de macumba. Sua mulher, Marlene de Oxum, uma Orixá igualmente famosa como “mãe de santo”, era filha de Oxaguiã. Orixá é uma divindade cultuada pelos iorubas do Sudeste da Nigéria. No Brasil, essa divindade africana é encarnada como a “água doce em geral”.

Fernando de Ifá e Marlene de Oxum serviam a seus deuses em rituais de candomblé, pedindo suas “bênçãos” para políticos corruptos, abundantemente encrustados nas administrações estadual e municipais da Bahia. Os integrantes da Assembleia Legislativa e das Câmaras Municipais do estado eram fervorosos afilhados da dupla.

Recentemente, o casal de pais de santo esteve em Brasília para “abençoar” o presidente dos Estados Unidos, que aqui aportou em visita à colega brasileira. Vieram no jatinho que transportou o governador baiano e sua comitiva. No Palácio do Itamarati refestelaram-se de finas iguarias, em memoriável jantar. Lá pelas tantas, quando o uísque Royal Salute subiu à cabeça do mandatário americano, esse formalizou convite à dupla de orixás para visitarem a terra de Tio Sam.

Barack Obama já conhecia a fama dos baianos. Não apenas das divindades da cidade de Prado, mas da nação inteira. Lera livros de Jorge Amado, ouvira música de Caetano, da Gal, da Daniela Mercury e do ex-ministro lulista, Gilberto Gil, assistira a filmes da Sônia Braga e lutas do Popó, atual deputado federal. Obama, de certo modo, sentia-se próximo do povo baiano, de suas origens afrodescendentes. Por isso, fez-lhe o convite, imediatamente aceito.

Alguns meses depois, o mandatário ianque mandou o próprio avião, o Air Force One, apanhar na cidade de Prado o Fernando de Ifá e a Marlene de Oxum, costumeiros usuários de outra aeronave famosa, o Aerolula, conhecido como Air Force 51, tendo em vista o apetite do ex-presidente brasileiro pela “mardita”.

As divindades baianas viajaram acompanhadas de seu séquito religioso, uma comitiva de considerável expressão quantitativa. Voaram para Washington. Lá, visitariam a Casa Branca, conheceriam o Capitólio, seriam recebidos pelos afrodescendentes americanos de maior projeção social, enfim, “benzeriam” as dependências do Congresso, tirariam a macumba que os republicanos mandaram fazer para Obama. O presidente tinha quase certeza de que o “trabalho” de Fernando e Marlene resultaria na morte de Osama Bin Laden.

O avião aterrissou. Mas os baianos não desceram da aeronave. Secretários de Estado, assessores do presidente, agentes do FBI e da CIA, ninguém os convenceu a descer do Air Force One. Um secretário, designado por Obama, subiu a bordo para perguntar a Fernando por que eles não desciam. O presidente aguardava ansioso a volta do emissário.

– Senhor, os baianos estão com medo do Wel.

– Mas quem é Wel? – perguntou Obama.

O secretário retornou a aeronave.

– O presidente quer saber quem é Wel?

Fernando respondeu:

– Não sabemos meu rei. Mas naquele cartaz está escrito: “WELCOME BAIANOS!”.

O avião, já reabastecido, voltou ao Brasil. Fernando e Marlene aproveitaram a viagem de retorno e dormiram durante todo o percurso. Eles e a numerosa comitiva estavam cansados. Como sempre!