Na Saída do Metrô

                                                        Na Saída do Metrô

Trafego na contramão do mundo, sem dúvida. Apesar dessa conclusão, me dirigi para a escada rolante certa, a que subia. Na minha frente uma moça, até bonitinha, olhou-me sorridente; com interesse ou curiosidade? Ela vestia aquelas roupas "ponta em cima, ponta em baixo" saia rodada, até o tornozelo, blusa rosa algo desbotada, meias de ginástica e tênis meio sujos. Mais a frente ia uma outra, mais ou menos com o mesmo visual, só que calçava um sapato de amarrar enorme, tipo tanque, preto, sola de três andares. Estava acompanhada de um cara com uma camisa amarrotada, meio prá dentro, meio prá fora de uma calça com pregas, cabelos tipo couve-flor arrepiada, sem costeleta, brinco numa orelha e bolsinha amarrada na cintura (feitos um para o outro).
A roupa que vestimos é um espelho das nossas vidas, e eu ali trajando uma roupa careta, sem nenhum "tcham prá frente...". A mocinha devia estar me olhando com curiosidade.
Não sorrindo para mim, porém, de mim. I should have known better, não, não! I should dress better, ou algo assim.
Se eles não forem do PV, com certeza são simpatizantes da esquerda. E eu ali solitário. Devem ter feito camping no último fim de semana e hoje vão almoçar comida natural. Se eu não os entendo, eles também não me entendem. Não há a menor sintonia!
Termina a subida. Do outro lado da rua está tocando "Taca a mãe prá ver se quica". Tacaram. Ela quicou e quase pegou em mim.
Trafego na contramão do mundo, sem dúvida.
(1989)

Karpot
Enviado por Karpot em 30/05/2011
Reeditado em 19/05/2013
Código do texto: T3003649
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