A MISÉRIA E A FOME


Lendo uma crônica de Elenite Araújo, sobre as belezes e tristezas que vemos na rua, num simples passeio de vinte vinutos. lembrei de dois acontecimentos que
deixaram eu e meu filho, no primeiro caso e depois eu e meu marido no segundo, arrasados.
A gente passa pela rua, qualquer bairro, tanto faz zona norte, sul, oeste, é tudo igual no que se refere a pobreza. Na zona sul, o governo recolhe os mendigos para nao enfeiar a zona rica da cidade, mas se andarmos para outros bairros, a miséria é exposta a olho nu, ninguem se importa.
Eu morava num apartamento, aqui mesmo em Jacarepaguá, no último andar do
prédio e de frente para a rua. Ao lado do prédio, para variar, virou uma lixeira. Alguém colocou uma lizeira caseira, grande naquele terreno, o objetivo não sei. Mas algumas pessoas , talvez trabalhadores da obra em frente, jogavam os restos de suas quentinhas na tal lixeira. Um dia, eu estava acabando de aprontar o almoço, e meu filho veio afobado querendo um prato de comida bem cheio. Eu nunca o tinha visto com tanta fome e pensei que estava brincando, pois ele dava para fazer umas brincadeiras comigo. Falei que o almoço já ia para a mesa e  ele completou.
- Mãe, não é para mim, tem um homem lá embaixo catando comida do lixo, você se importa se eu levar um prato para ele?
Foi um aprendizado para meu filho que tinha tudo que podíamos dar, ele não sabia o que era passar necessidade.
Fiquei até comovida. Fiz o prato, peguei uma colher e dei para ele levar para o homem. Diz meu filho que quando ele chegou com o prato de comida e ofereceu, o homem ficou com os olhos cheios de lágrimas e agradeceu muito. Sentou na calçada e comeu como se nunca tivesse comido e tomou um suco de laranja que dei junto com a comida. Nesse dia conversamos sobre a miséria humana e para
meu filho,  foi uma lição. Ele valorizava o que dávamos e só aquilo que podíamos, mas foi , embora triste,uma lição de vida.
Outra ocasião eu ainda trabalhava no centro da cidade e quando saímos do trabalho, eu eu meu marido resolvemos comer um sandwich no BOB´S.  Estávamos comendo quando um homem muito magro, amarelo, mas limpo, pediu um dinheiro para ele comprar um pão. Meu marido pediu ao moço do BOB´S um sandwich dos maiores, na época acho que era o Big Bob e um suco de laranja. Gente do céu...o sandwich que eu estava comendo custou a descer. O homem sentou num cantinho de uma loja, onde havia um degrau e uma parede e chorava enquanto comia. Foi uma cena de doer a alma. Meu marido compou outro sandwich e deu para ele comer mais tarde.
Nunca esqueci desses dois casos porque deu uma impressão de importência, há tantas pessoas famintas nesse nosso país e tantos esbanjando, jogando fora.
É certo que não podemos fazer nada, por todos os famintos, mas se fizermos um pouquinho já estamos ajudando.
Às vezes, nos meus devaneios vejo o Brasil com todas as pessoas com casas próprias, comida na mesa, filhos na escola e trabalho.
A gente faz nossa escolha na tentativa de melhorar a miséria humana quando votamos nesses infelizes que só querem enriquecer. O que mais se pode fazer?
Pensar bem e tentar escolher certo, mas quando eles chegam lá, o dinheiro corrompe todos eles  e vai para o lixo tudo que falaram para se eleger. O Brasil assim vai sempre ser o país dos miseráveis.
naja
Enviado por naja em 03/06/2011
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