Água mole em pedra dura tanto bate até que fura
(Ou O vigésimo terceiro dia)
 
       Vivi nos últimos vinte e três dias uma situação Kafkiana. Muita gente ficou sabendo por mim mesma que sou muito linguaruda e por isso prometi a mim mesma não falar mais sobre isso e hoje pretendo por aqui uma pá de cal no assunto. Descobri que mais que saber perder é preciso saber ganhar. E eu venci. Ganhei.

Tudo começou em um dia onze de maio, que é um dia inesquecível para mim porque foi em um onze de maio que comecei a trabalhar como professora e vivi os melhores anos de minha vida. E agora outra marca veio se agregar a essa – fui descaradamente roubada por um hacker esperto que retirou dezenove mil e novecentos reais da conta de minha Fábrica de Pães.

Quando percebi o roubo não fiquei desesperada – afinal como não fui eu que fiz a transferência do dinheiro para outra conta, tinha certeza que bastaria reclamar para que tudo se resolvesse imediatamente. Mas eu estava enganada – a situação levou vinte e três dias para ser resolvida. 
 
Não dá para repetir aqui minha jornada de mineira – a que dá um boi para não entrar em uma briga e uma boiada para não sair. Vou apenas contar superficialmente a minha luta para que a verdade fosse restaurada e não tivéssemos prejuízos – nesse dia onze tentei acessar a nossa conta como faço usualmente no mesmo horário: almoço ao meio dia, meia hora depois já estou no escritório para fazer o meu serviço e aí entro na página desse banco do qual minha família é cliente há tanto tempo que nem dá para lembrar desde quando. Não consegui, a senha estava expirada – não me assustei: o banco em questão passa por um processo de fusão e estava mudando as coisas muito lentamente. Fui até a agência bancária, um passo aqui outro ali, informaram-me que o problema só seria resolvido através de 0800 e no zero 0800 a informação de que precisava do token, um aparelho através do qual se faz a assinatura eletrônica. Mesmo usando-o não consegui abrir minha conta e fui informada de que no dia seguinte alguém me ligaria para resolvermos o problema. Fui então novamente para a Agência para fazer o depósito habitual e levei o token comigo para certificar-me de que era o aparelho certo. Era. Contei o acontecido e voltei para casa esperando o dia seguinte que veio com a grande surpresa: quando finalmente conseguimos nos falar eu e uma das vozes desconhecidas dos 0800 pudemos finalmente acertar a nova senha e eu abri a conta e descobri o desfalque. Bem, a partir daí começou a novela que o Gerente Geral da Agência chamou de mexicana e eu de kafkiana.
 
De cada vez que eu chamava o 0800 eu contava a mesma história e de cada vez diziam que dentro de cinco dias estaria tudo resolvido... Só que de cada vez a reclamação zerava e mais um dia era acrescentado ao prazo. Na agência passei por quatro gerentes que me garantiam que nada podiam fazer porque a transação não tinha sido feita na agência – só no 0800. Em nome do sigilo bancário nenhuma informação me foi prestada. Suei para extrair alguma informação (Banco para o qual foi transferido, local (Goiânia) beneficiária (Arlete Rodrigues dos Santos) tudo negado em nome do sigilo bancário e da proteção a quem recebeu o dinheiro). Depois de muitos cinco dias, sem nenhuma informação, fui informada de que o processo passaria novamente a contar do zero porque eu fizera a reclamação como pessoa física (não tenho conta pessoal no banco) e como pessoa jurídica o processo teria que ter passado pela Agência, mas que apesar disso ia fazer uma exceção e cuidar dele para mim. E mais dias se passaram e aí me informaram depois que liguei que não tinham percebido indícios de fraude e, portanto eu seria responsável pela transferência. BO, advogado contatado, pedido protocolado e negado de fechamento de conta porque eu estava devendo, fui ficando bem brava e um belo dia sentei-me frente ao gerente geral e não saí enquanto ele não fez as ligações que eu achava necessárias. Na mesma noite recebi um telefonema de uma das vozes desconhecidas, exatamente daquela responsável pela investigação que confirmou que não vira indício de fraude porque o IP era do meu computador e a transferência tinha sido feita exatamente no horário que eu acessava a conta. Resolvi perguntar se não seria possível alguém acessar o meu computador à distância e ela candidamente disse que sim se eu lhe desse o meu token. Foi aí que eu perdi a compostura e lhe disse que eu nem usava essa porcaria como ainda iria dar para outra pessoa usar? E fui iluminada ao contar- lhe outra vez a história. E então ela, a responsável pela investigação, por ouvir todos os telefonemas que dei, analisar o meu perfil (nunca fiz nenhuma transação pela internet, a não ser consultar a conta) me disse: mas eu não sabia disso! Então a coisa muda de figura... E após mais de uma dezena de perguntas indiscretas e de certa forma ofensivas pediu-me vinte e quatro horas para reinvestigar.

 Hoje, ao meio dia, ligou-me pedindo desculpas e afiançando que no máximo até segunda feira minha conta será acertada, dívida retirada, juros retirados (quase mil reais).

Como não sou santa tive o imenso prazer de ir até a Agência onde ouvi todos os pedidos de desculpas possíveis além da solicitação para não fechar minha conta.

E
a todos vocês que tiveram a paciência de ler meu desabafo, o meu pedido de desculpas, mas eu precisava fazer isso.

E sabe o que mais me incomoda:? Eu não tinha esse dinheiro no banco, ele fazia parte da reserva que o próprio banco coloca a disposição dos bons clientes para que seja usado se necessário: uma isca.