EQUILIBRIO

Lá estava eu andando pela praia e, diante da imensidão daquele mar alonguei minha visão até o limite da linha do horizonte ficando ali absorta em meus pensamentos.

Pensei porque o Criador fez um planeta tão cheio de água? E se ao invés de mares fossem florestas? De rios, savanas? Mais animais voadores e menos nadadores?

Meus pensamentos não fizeram muito sentido. Tudo estava em seu respectivo lugar. A natureza perfeita, cheia de graça. Água onde tinha de ser água; florestas onde deveria ter florestas; animais na medida do necessário em cada ecossistema.

Por um instante passei a indagar-me sobre a natureza e seu equilíbrio enquanto uma gota de mar em forma de onda banhava meus pés. Conjeturei sobre seus movimentos e a maneira como se conduziam para que seu equilíbrio fosse respeitado levando em consideração a grandeza de sua fúria.

Enquanto uma borboleta passou voando lentamente sobre minha cabeça pensei nas seqüelas que deixamos na natureza com nossa agressão diária. Pensei em como o progresso, de forma geral, pudesse trazer à natureza um sustentável equilíbrio sem deixar rastros de destruição.

Ainda que vivenciemos uma era de tecnologias espantosas a natureza ainda se constitui a fonte primeira de sustentabilidade da vida dentro do planeta.

Por que então nós não poderíamos mudar de atitude em relação à casa que nos abriga e nos provê?

Por que não cuidarmos de sua limpeza, de sua beleza, de sua pintura? Por que o progresso galopante nos traz tanto fascínio?

O consumo sem limites gera conseqüências desastrosas para natureza. Em função dessas conseqüências ela, num ato desesperado, lança sua força descomunal buscando equilibrar-se diante de nossas atitudes abusivas para com ela.

Sentei-me na areia enquanto uma brisa envolvia-me com seu perfume de mar e dei um pulo no futuro.

Enquanto as ondas vinham e voltavam trazendo a leve melodia que só as águas possuem, vi o quanto nossa casa está desarrumada, destruída, triste, doente.

Pensei nos bilhões de pessoas que vivem nesta casa e o quanto ela tem sido generosa para com todos.

Imaginei o conjunto da obra que o Criador nos doou como morada temporária. E ela nos tem servido como uma grande mãe serve a seus filhos, incondicionalmente.

Vi-me diante de um emaranhado de problemas sem soluções. Vi a natureza sangrando em suas entranhas pelo profundo desrespeito com que é tratada.

Vi que nós, moradores desta casa, somos a fonte de todo desequilíbrio existente e que aquele futuro era a face cruel de nossa falta de percepção de unidade. Natureza e homens são uno.

Sobressaltada voltei rapidamente. Enquanto um bando de gaivotas voava sobre o mar em busca de alimento percebi que a natureza não traz saltos; ela é constante em seu ciclo de renovação. Ela não ultrapassa seus limites. Ela é perfeita em sua manifestação.

Nós, seus inquilinos, tentamos escravizá-la para nosso prazer e bem-estar tirando dela o que não podemos dar-lhe: VIDA.

Envergonha pela nossa destemperança diante de tanta generosidade busquei justificativas para a falta de cuidados para com ela na esperança de aliviar minha culpa.

Talvez a falta de conhecimento por parte dos hóspedes e suas grandes necessidades são os causadores de uma grande parte de seus problemas.

A ganância mórbida e o egoísmo de outros tantos geram danos ainda maiores do que a grande maioria de necessitados que busca tirar da natureza sua sobrevivência, e em muitos casos, subvivência.

Porém, nada deu sustentação a falta de cuidados para com nossa casa.

Num momento de profunda conciliação com a mãe natureza pude entender sua fúria. Ela só entende um movimento: equilíbrio. E é por esse equilíbrio que ela luta, briga e se impõem.

Ela foi dotada de tamanha energia que seria capaz de varrer-nos sem que possamos fazer absolutamente nada para detê-la. No entanto, ela se subjuga até o limite de suas forças para manter-se em equilíbrio e doar-se, em abundância, para toda criatura vivente em seu meio.

O sol se punha no oeste deixando uma visão multicolorida nos céus, retornei lentamente deixando-me tocar pelas águas das ondas, e num ato de gratidão agradeci a mãe natureza pela infinita riqueza que nos dá, lembrando que enquanto nós deixarmos de cuidar de nossa casa ela virá com uma latinha de energia dar um retoque na pintura que nós, por total descuido, deixamos de fazê-lo.

Livia Zoé
Enviado por Livia Zoé em 26/11/2006
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